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Bolívia: a elite se arma

Integrantes da União Juvenil Cruzenha, contrária a Evo Morales e que ataca trabalhadores, movimentos sociais, populares e destrói prédios públicos (Foto: Folha Imagem)

Integrantes
da União Juvenil Cruzenha, contrária a Evo Morales

e que ataca indígenas e trabalhadores
(Foto: Folha Imagem)

Assassinatos de camponeses, inclusive de mulheres e crianças, destruições de prédios públicos e bloqueios de estradas no leste da Bolívia são as maneiras como opositores ao governo do indígena Evo Morales têm se manifestado nos últimos meses.

Eles são contra a iniciativa de direcionar impostos para os aposentados e também são contra a nova Constituição, que prevê maior justiça social, feita no governo de Morales.

Desde 2006, quando o presidente tomou posse, as classes e etnias dominantes tentam inviabilizar mudanças democráticas.

Apesar disso, Evo Morales é respaldado por 67,4% de toda a população, até das regiões opositoras – conforme referendo para confirmar sua permanência no poder, realizado em 10 de agosto último.

Ilustração sobre os departamentos (estados) que se opõem e os favoráveis a Evo Morales (Editoria de Arte Folha Imagem)

Ilustração sobre os departamentos (estados) que se opõem
e os favoráveis a Evo Morales (Editoria de Arte Folha Imagem)

Os atentados acontecem na região boliviana chamada “meia-lua” (veja mapa acima), composta de 5 dos 9 departamentos (estados) contrários a Evo Morales. A região é comandada por governadores de oposição e concentra a maior produção de gás no país.

O Jornal do Unificados entrevistou Carlos Cortez Romero, professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), boliviano de origem e naturalizado brasileiro, em 11 de setembro, auge dos atentados na Bolívia.

Para o professor, que esteve no referendo e acompanha de perto o processo político boliviano, é necessário pensar na luta de classes para entender os conflitos no país vizinho.

A ENTREVISTA

Exploração de 500 anos

População faz filas para comprar gás, produto que sofre boicote de venda por parte da elite boliviana como tática para provocar revolta popular contra o presidente Evo Morales (Foto: Folha Imagem)

População
faz filas para comprar gás, produto que sofre boicote

de venda por
parte da elite boliviana como tática para provocar

revolta popular
contra o presidente Evo Morales (Foto: Folha Imagem)

Jornal do Unificados – Por que esses protestos na Bolívia contra o governo de Evo Morales?

Carlos Cortez Romero – Na verdade, isso é fruto de uma disputa de uma questão econômica, social, de um modelo econômico. É fruto de todo um processo de resgate de uma história escrita a partir dos próprios indígenas, dos camponeses e dos novos movimentos sociais, que reivindicam a propriedade dos recursos naturais contra a oposição, que tenta retomar o poder para implementar políticas neoliberais e para recuperar a administração dos recursos naturais.

Jornal do Unificados – Esses protestos ocorrem porque Evo instituiu algumas medidas de distribuição desses recursos?

Romero – Na verdade, o que os opositores alegam é que Morales teria retirado recursos dos impostos diretos dos hidrocarbonetos para poder financiar programas sociais que beneficiam pessoas com mais de 60 anos. Eles querem de volta esses recursos. Acontece que, com a política de nacionalização das empresas petroleiras, esses estados (chamados de departamentos) recebem hoje muito mais recursos que antes. Ou seja, é um pretexto falso.    

Jornal do Unificados – A gente vê atos muito violentos, com explosão de gasodutos e assassinatos. Como ocorrem esses protestos?

Romero – Pelo o que se sabe, são grupos paramilitares treinados por militares colombianos, inclusive israelitas, e têm todo o apoio dos Estados Unidos. Trata-se de tentar desgastar o governo Evo, trata-se de provocar mortes que serão creditadas na conta de Evo Morales. Por determinação de Evo, por sua concepção política e social, as forças policiais não usam armas letais. E as forças armadas só poderão fazer uso de armas numa situação extrema. Isso a partir de Evo Morales, porque na época da ditadura essas questões não existiam.

Jornal do Unificados – Nos jornais a gente lê que a Bolívia é um país historicamente “instável”. O que significa isso?

Romero – Eu diria que é a radicalização da luta de classes. É uma questão que não se explica pelo referendo, pela ascensão de Evo Morales. Se explica por mais de 500 anos de exploração colonialista, depois imperialista, neoliberal… A Bolívia tem toda uma cultura revolucionária, desde a época da colônia. As novas formas de organização social expressam uma certa agudização da luta de classes. (O MAS, Movimento aL Socialismo, do qual participa Morales, é um partido/sindicato/movimento que  nasceu como um “instrumento político” em meados dos anos 1990 e conseguiu articular demandas indígenas com um programa político na defesa da soberania nacional. Em 2000, o povo boliviano se insurgiu contra a privatização da água e em 2003, tirou da presidência Gonzalo Sánchez de Lozada, que tentou impor aumento generalizado de impostos e exportação do gás boliviano pelo Chile.)

Jornal do Unificados – O que a esquerda boliviana tem a ensinar à esquerda brasileira?

Romero – Acho que o ensinamento não é da esquerda boliviana para a esquerda brasileira. O ensinamento é dos movimentos sociais. O que têm a ensinar? Principalmente esse espírito de entrega, abnegação, de luta por um país, por uma sociedade mais justa e igualitária e por não medir esforços para um país mais justo e soberano.

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