A Grécia, país que abriga uma das culturas mais antigas do mundo, e também considerado o berço da sociedade moderna, passa hoje pela maior crise financeira de sua história.
O país de apenas 11 milhões de habitantes, população menor do que a cidade de São Paulo, gastou muito mais do que podia na última década, pediu empréstimos pesados e deixou sua economia refém de uma enorme dívida.
Para sanar o problema e evitar que o país entrasse em moratória, o governo recorreu ao socorro da União Européia e do famigerado Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para ter direito ao pacote de 110 bilhões de euros, o governo precisou cumprir uma série de exigências internacionais e adotar medidas como: congelar os salários dos servidores públicos, aumentar impostos, cortar planos de aposentadoria, acabar com vários benefícios e flexibilizar leis trabalhistas.
Durante greve geral na Grécia, cerca de 500 mil
trabalhadores fazem
passeata (Foto: AFP – 05/05/2010)
Inconformados, os gregos foram às ruas. Durante os últimos meses dirigentes sindicais, trabalhadores e estudantes realizaram diversas manifestações e greves. Até o momento, quatro greves gerais pararam o país e outras se anunciam.
Nesta edição o Jornal do Unificados conversou com o professor grego Sotiris Martalis, representante da Federação dos Servidores Públicos da Grécia, e um assíduo participante das manifestações no país.
“A LUTA É DE TODOS”
Professor e sindicalista grego Sotiris Martalis
(Foto: João Zinclar – 05/06/2010)
Crise
A dívida pública grega chega a quase 300 bilhões de euros e o déficit a 130% do Produto Interno Bruto (PIB). Essas somas podem parecer grandes, mas em relação a outros países é pequena. Na Itália a dívida pública é de 3 trilhões de euros.
Com uma situação delicada como essa fica fácil para bancos capitalistas lucrarem e manobrarem a situação a seu favor. Na Grécia, o estado deu para os bancos 38 bilhões de euros de uma única vez.
Além disso, setores industriais poderosos, como a construção naval, por exemplo, são isentos de impostos.
Agora, para o governo poder manter os serviços públicos em funcionamento e pagar essa enorme dívida decidiu atacar direitos dos trabalhadores e aposentados.
Medidas
Com o apoio da grande mídia o governo aterroriza o país. Eles afirmam que a Grécia está prestes a passar por um colapso, que não vai ter dinheiro para salários, hospitais, educação.
As medidas chegam a cortar 50% dos salários do funcionalismo público. Existe um aumento dos impostos para produtos básicos de consumo, como comida, bebidas, entre outros.
No final do mês, o parlamento vai votar uma nova lei para as aposentadorias, que entre outras coisas exige maior tempo de contribuição.
E as medidas não vão parar por ai. Se os trabalhadores não lutarem por suas conquistas, elas continuarão sendo atacadas pelos capitalistas.
Luta
Polícia reprime manifestação de trabalhadores
na Grécia (Foto: AFP –
maio 2010)
Desde o principio do ano começou um grande movimento de massas contra os ataques do governo. Já ocorreram quatro greves gerais.
O ponto alto das mobilizações foi no dia 5 de maio, quando 500 mil trabalhadores foram às ruas. É uma marca extraordinária se você levar em conta que a Grécia tem aproximadamente dois milhões e quinhentos mil trabalhadores.
Os trabalhadores gregos hoje estão na linha de frente contra essas medidas, e esperamos a solidariedade do resto do mundo.
Futuro
A classe dominante mundial tem feito um experimento na Grécia. Lá existe um movimento sindical forte, com muita influência da esquerda.
Se essas medidas de austeridade, esses cortes, passarem na Grécia, certamente serão estendidas para outros países.
A luta dos trabalhadores da Grécia é, portanto, a mesma luta dos trabalhadores de outros países europeus, dos trabalhadores do Brasil, dos trabalhadores de todo o mundo.
União Européia
Quando a Grécia entrou na zona do Euro existia o discurso que os trabalhadores teriam uma vida melhor. Afirmavam que ano após ano haveria um aumento salarial, para tornar o salário grego compatível com outros países da União Européia.
Essas promessas não se concretizaram. Eu, por exemplo, sou professor secundário e recebo quase metade do salário médio de um professor da zona do euro.
As medidas tomadas pelo governo deixam no ar uma dúvida muito forte. Qual é o centro de decisões? Quem realmente comanda o país? Os líderes gregos ou dos outros países?
O Instituto Gallup fez uma pesquisa e constatou que a maioria da população é favorável à permanência na União Européia. Mas a uma União Européia de caráter distinto. De bem estar social, bom níveis de saúde, educação.
Nós queremos estar com a Europa, mas com os trabalhadores europeus.