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DE: Carta Campinas
A colunista do Jornal espanhol El Pais, Eliane Brum, publicou artigo hoje (09/11) em que pergunta o que aconteceu com os intelectuais de Campinas depois da burrice proferida pela Câmara de Campinas ao aprovar uma moção de repúdio ao Ministério da Educação.
A moção de repúdio foi aprovada por causa de uma questão da prova do Enem que citava a filósofa francesa Simone de Beauvoir.
Para Brum, episódios como esta moção de repúdio à Simone de Beauvoir ocorriam esporadicamente em rincões afastados, e logo eram ridicularizados. Hoje, acontecem na Câmara de Vereadores de uma das maiores e mais ricas cidades do estado de São Paulo, no sudeste do Brasil, uma cidade que abriga várias universidades, entre elas a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), uma das mais respeitadas do país.
E cadê os intelectuais? Rindo dos burros nas cantinas universitárias? Será?
Não era de se esperar mais iniciativas de busca do diálogo, de criação de oportunidades para explicar quem é Simone de Beauvoir e refletir sobre sua obra, ou mesmo a ocupação da Câmara, para produzir reação e movimento que permitisse o conhecimento e combatesse a ignorância?
No texto de Brum no El Pais, o Brasil atingiu a burrice máxima: a fogueira de Simone de Beauvoir a partir da questão do ENEM mostrou que a burrice se tornou um problema estrutural do Brasil. Se não for enfrentada, não há chance.
Hordas e hordas de burros que ocupam espaços institucionais, burros que ocupam bancadas de TV, burros pagos por dinheiro público, burros pagos por dinheiro privado, burros em lugares privilegiados, atacaram a filósofa francesa porque o Exame Nacional de Ensino Médio colocou na prova um trecho de uma de suas obras, O Segundo Sexo, começando pela frase célebre: Uma mulher não nasce mulher, torna-se mulher.
Bastou para os burros levantarem as orelhas e relincharem sua ignorância em volumes constrangedores. Debater com seriedade a burrice nacional é mais urgente do que discutir a crise econômica e o baixo crescimento do país. A burrice está na raiz da crise política mais ampla. A burrice corrompe a vida, a privada e a pública. Dia após dia.
SIGA ESTE ENDEREÇO para ler o artigo de Eliane Brum no jornal espanhol El País, sob o título Parabéns, atingimos a burrice máxima – A baranga Simone de Beauvoir e a importância de um livro que ensina a conversar com fascistas.
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Colunista classifica moção de vereador como estupidez e mau-caratismo
DE: Carta Campinas
O colunista e advogado Pedro Maciel, classificou a moção de repúdio ao MEC (Ministério da Educação), aprovada por 25 vereadores de Campinas, na última quarta-feira, dia 28, de uma estultice. A moção de repúdio direcionada ao Ministério da Educação protestou contra uma questão na prova do Enem que incluía um trecho de um texto do livro O Segundo Sexo, da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir. Trata-se de estultice do vereador e aquela casa de leis não poderia impor à cidade e à sua população, afirmou.
O autor da Moção é o vereador Campos Filho (foto abaixo), do partido DEM, mas teve a inacreditável aprovação de 25 vereadores.
Para Maciel, na questão do Enem, Simone de Beauvoir, uma das importantes pensadoras do século XX, não fala do ser mulher como uma figura fisiológica ou biológica, mas como produto cultural, uma figura socialmente construída. É disso que se trata o fragmento do texto contido na prova de ciências humanas do ENEM, não se tratava de nada demoníaco Afirmar que esse pensamento é demoníaco flerta com a estupidez, anotou.
E prossegue: Estupidez ou mau-caratismo do vereador que usou a expressão, pois, gênero não é o mesmo que sexo, o sexo é biológico, nascemos com o sexo, já o gênero é uma construção social. Análise esta, pontuada nos estudos das ciências humanas e da sociedade como a Sociologia, a História por exemplo. Portanto a propositura deste conteúdo em avaliações como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) mostra consonância com a realidade social brasileira e internacional, sua historicidade e contemporaneidade.
Para Maciel, o livro de Simone de Beauvoir deveria ser lido não por feministas apenas, mas por mulheres, homens e todas as pessoas que, de um modo ou de outro, estão marcados pela questão de gênero, porque se trata de um livro básico, que nos ensina a pensar sobre as desigualdades e privilégios de gênero, aqueles que experimentamos como os mais naturais sem perceber como nos marcam.
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Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, mais conhecida como Simone de Beauvoir, foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa. Nasceu em 9 de janeiro de 1908, no 6.º arrondissement de Paris (França), cidade em que faleceu em 14 de abril de 1986. Fonte: Wikipedia
A afirmação de Beauvoir – (em Ensaios de Gênero): Ninguém nasce mulher: torna-se mulher, escreveu Simone de Beauvoir em seu O Segundo Sexo. A escritora e feminista francesa procurou entender que lugares sociais pertenciam aos homens e que lugares pertenciam as mulheres, quais mitos, destinos biológicos, condições do ser, posições sociais, circunscrevem a figura do homem e a figura da mulher.
Entre vários aspectos, Beauvoir também procurou entender essas diferenças em termos de educação e infância, relação com os pais, etapas do ciclo vital do ser humano, etc.; alertando-se que a mulher era sempre tratada como o Outro, como secundário, daí o título O Segundo Sexo.
Além disso, compreendeu que essas diferenças eram produzidas e mantidas no âmbito social e cultural. Dessa forma, ela afirma que a gente ou se torna mulher ou se torna homem, dado que uma série de significados culturais são inscritos num sexo dado (macho ou fêmea).