Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 100 mil pessoas morrem por ano devido a doenças respiratórias e câncer causados pelo contato com o amianto, largamente usado na indústria.
O amianto é uma fibra mineral utilizada em telhas, caixas d’água, pastilhas de freio etc. As indústrias químicas e plásticas representam 2% de seu uso.
Recentemente, o movimento anti-amianto ganhou força. Em decisão histórica, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a proibição do amianto no estado de São Paulo, em 4 de junho.
O uso e comercialização do amianto já são proibidos em estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e na Argentina, Chile, Uruguai e União Européia.
A entrevista do Jornal do Unificados é com Fernanda Giannasi (foto), 50 anos, símbolo da luta contra o amianto. Ela ganhou prêmios nacionais e internacionais por sua atuação contra o uso do mineral.
Amianto mata!
Protesto contra contaminação ambiental em Paulínia/SP,
em 28 de
abril de 2007 (Foto: arquivo Unificados)
Engenheira e auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Fernanda Giannasi sofreu ameaças pelo empenho com que lida contra grandes lobbies do amianto.
Fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) e coordenadora da Rede Virtual Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina, Fernanda atua junto a trabalhadores expostos ao mineral. Muitos trabalharam em fábricas como Brasilit e Eternit, em São Caetano do Sul e Osasco.
Dos que estão vivos, ainda padecem de doenças lentas, progressivas e incuráveis causadas pela fibra. Além de propor ações judiciais em defesa das vítimas, as entidades das quais Fernanda participa buscam conscientizar a população em geral, trabalhadores e opinião pública, sobre os riscos do amianto.
A ENTREVISTA
Doenças não são divulgadas
Jornal do Unificados – Por que as doenças causadas pelo amianto não são conhecidas pela população?
Fernanda Giannasi – Porque nunca houve interesse das indústrias que as doenças fossem divulgadas, especialmente aquelas de caráter maligno (como o câncer de pulmão e o mesotelioma de pleura, peritônio e pericárdio) e por conta também da omissão de nossas autoridades sanitárias, que nunca fizeram uma busca ativa de casos entre trabalhadores e ex-empregados expostos e junto à população. Em geral, as indústrias tentam descaracterizar o nexo causal, isto é, o vínculo entre a doença e o seu agente causador, atribuindo a outros fatores, como por exemplo, ao hábito de fumar etc.
Jornal do Unificados – Quais são as dificuldades encontradas pelo movimento para a extinção completa do uso e comercialização do produto? Existem materiais substitutos?
Fernanda Giannasi – Há muitos interesses econômicos em jogo e atualmente também interesses de governo, já que a maior empresa da América Latina e uma das maiores mineradoras de amianto do mundo é controlada pelo Fundo de Pensão do Banco Central e Fundos de Participação Societária do BNDES (refere-se à SAMA, do grupo Eternit, localizada em Minaçu, norte do estado de Goiás). É um dos lobbies industriais mais eficientes que se conhece, comparado ao do cigarro. Eles produzem até uma ciência própria para negar que seus produtos façam mal à saúde da população e se servem de pesquisadores venais, que vêem aí a oportunidade de engrossarem seus magros salários das universidades públicas e entidades de pesquisas governamentais de nosso país. Há diversas tecnologias e produtos que substituem o amianto e disponíveis no mercado brasileiro.
Jornal do Unificados – Como você vê essa discussão no Brasil hoje? As campanhas anti-amianto têm surtido efeito?
Fernanda Giannasi – Após histórica decisão proferida pelo STF em 04 de junho último, quando julgou que a lei paulista para proteção da saúde e dignidade da pessoa humana é constitucional, isto é, é legal e está válida, o debate no Brasil sobre o amianto é outro e antevemos para muito em breve seu banimento. Tememos que o governo Lula ainda queira dar sobrevida para esta empresa nacional e estatal, mas iremos fazer forte pressão para que o prazo para o fim do amianto seja “para ontem”, considerando os danos que ainda ocorrerão nos próximos 50 anos – mesmo parando a produção nos dias de hoje. Portanto, o amianto está em seus estertores e com certeza as campanhas anti-amianto têm surtido efeito. As mais recentes são a total interação das vítimas com o público nos parques municipais de São Paulo onde estamos levando a campanha AMIANTO MATA! com o total apoio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo.