Conhecido por ser um país tolerante e diversificado, que conta com todas as raças e todos os povos, e que acolheu imigrantes do mundo inteiro em diversos momentos de sua história, o Brasil vê nos últimos anos a intolerância crescer em suas cidades.
Grupos radicais, que pregam o ódio e a discriminação contra gays, nordestinos, judeus e negros, entre outros, ganharam espaço e se organizaram em muitas cidades, principalmente nas capitais.
Em 2010, o Brasil registrou 260 casos de homicídios contra gays e travestis. Aumento de 31% em relação ao ano anterior. Em média, um homossexual é morto no país a cada 36 horas.
Em relação aos números de 2007, representa crescimento de 113% nos assassinatos de cunho homofóbico (ódio ou aversão a homossexuais).
Nesta edição, o Jornal Unificados traz uma entrevista com Marcelo Cerqueira (foto acima), presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB). A entidade Lésbicas, Gays, Bissexual, Travestis e Transexuais (LGBT) é a mais antiga em atuação no Brasil, fundada em 1980 em Salvador, foi a primeira entidade a ser registrada em cartório. Ela atua no combate a homofobia e foi elogiada pelo cantor Caetano Veloso como Orgulho da Bahia.
ENTREVISTA
A arma dos oprimidos é o grito
Jornal do Unificados: Como e por que surgiu o GGB?
Cerqueira – O GGB nasceu em 1980 quando, Luiz Mott, então presidente do LGBT, recém chegado à Bahia vindo de São Paulo, no Porto da Barra foi agredido por um homofóbico com um soco na cara. A partir daí ele resolveu convidar as bichas da Bahia para rodar a baiana. O GGB existe há mais de trinta anos e é um patrimônio imaterial dos homossexuais da Bahia, registro vivo de nossa cultura.
Jornal do Unificados: O Brasil registrou 260 casos de homicídios contra gays e travestis em 2010, aumento de 31% em relação ao ano anterior. Ao que se deve este aumento?
Cerqueira: Isso deve a uma cultura que considera homossexuais como indivíduos de terceira categoria. Também se relaciona com a impunidade e falta de amparo legal para LGBT no Brasil. Os crimes acontecem e não são punidos exemplarmente. Essa impunidade estimula novos crimes e assim segue-se nessa onda horrível de mortes.
Jornal do Unificados: Homofobia é crime?
Cerqueira: Não é! Homofobia virou entretenimento popular. É comum discriminar LGBT na televisão, nos programas de humor, no dia a dia, e nada acontece porque não temos amparo para denunciar. É nossa luta é para tipificar homofobia como crime para, assim, acreditarmos conter essa onda de violência contra nosso povo.
Jornal do Unificados: De acordo com o relatório, a cada um dia e meio um homossexual brasileiro é morto. Como o governo lida com a questão do homossexualismo (preconceito)?
Cerqueira: Não lida e não reconhece esses dados nossos, pois não existe política pública para combater os crimes. Não existem editais públicos para projetos voltados para o combate à homofobia. O programa Brasil Sem Homofobia, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, não atua. O governo só manda fazer conferências para ocupar a militância, para ela nadar de braçadas. E também o governo não quer discutir costumes! Homofobia virou um costume.
Jornal do Unificados: Segundo um estudo feito em 2010 pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil lidera o ranking mundial de assassinato a gay e a Bahia lidera, pelo segundo ano consecutivo, o ranking nacional. Como você se sente em relação a isso e o que vocês têm feito para o país sair dessa liderança?
Cerqueira: É um titulo vergonhoso, igual à mancha da escravidão. Sinto-me impotente diante de tantos crimes e difamação contra LGBT. O Brasil não merece isso. É um país jovem e democrático, mas não existe um acolhimento dos LGBT. O movimento luta para aprovar o PL 122 que torna crime a homofobia. A arma dos oprimidos é o grito, a gente grita, grita muito!
Jornal do Unificados: A mídia ajuda ou atrapalha os homossexuais (ex: novelas, filmes, jornal e programas de auditório, entre outros)?
A mídia impressa mudou muito. Isso porque entrou novos jornalistas e nós do movimento cobramos um tratamento adequado no texto escrito. Hoje a mídia escreve LGBT e não escreve a palavra homossexualismo e sim homossexualidade, isso é um avanço. Agora, a TV ainda deve personagens mais ricos no sentido da cultura do que é a homossexualidade. Os personagens ainda aparecem como indivíduos paralelos.