Aos 50 anos de idade e morador em Brasiléia, no Acre, o líder sindical e militante político Osmarino Amâncio Rodrigues (foto) é considerado o sucessor dos líderes seringueiros Wilson Pinheiro e Chico Mendes, ambos assassinados por suas lutas em defesa do meio ambiente e dos povos da Amazônia.
Osmarino, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e deputado estadual pelo PT, hoje está filiado ao PSoL, integra o Movimento Terra e Liberdade (MTL) e é implacável crítico do governo Lula. Ele escreveu o livro “O Grito da Floresta”, publicado inclusive na Europa, com um histórico dos movimentos dos quais participa e com as tradições e o folclore da floresta amazônica.
Diretamente de Xapuri, também no Acre, onde estava no dia 28 de maio último para acompanhar o julgamento dos acusados pelo assassinato do sindicalista Ivair Higino de Almeida, morto no dia 17 de junho de 1988, seis meses antes de o líder sindical Chico Mendes ter o mesmo destino, por telefone Osmarino Amâncio concedeu esta entrevista para o jornal do Unificados.
A ENTREVISTA
Destruição garantida
Jornal do Unificados – Quem serão realmente os beneficiários da transposição do rio São Francisco?
Osmarino – Sem dúvidas, os grandes beneficiados serão o agronegócio, as multinacionais, os grandes fazendeiros, usineiros, enfim… o capitalismo que sempre se deu bem com a seca no nordeste. A transposição não resolverá o problema para o pequeno agricultor, cujo mínimo irá se beneficiar. E será estragada a beleza do Velho Chico.
Jornal do Unificados – Objetivamente, qual é a razão da atual crise mundial de alimentos?
Osmarino – O monocultivo da soja, do milho e da cana, tudo transgênico, do eucalipto… há o delírio da exportação. A monocultura não trabalha com produtos essenciais. Ela abandona os alimentos para plantar para exportação.
Jornal do Unificados – A cultura da cana-de-açúcar para produção de álcool combustível é ameaça direta e incompatível com a agricultura alimentar?
Osmarino – Sem dúvidas. Neste projeto o trabalhador não está inserido. É o antigo discurso de atender o bóia-fria, o trabalhador rural, mas quem se dá bem é sempre o agronegócio. O lucro sempre está garantido para o capitalista, que tem garantia de subsídio e de exportação. A produção para a cadeia alimentar sempre estará prejudicada.
Jornal do Unificados – A saída da ministra Marina Silva é a vitória do agronegócio? O que o senhor espera de seu substituto, o ministro Minc?
Osmarino – Essa não é a discussão, não há qualquer diferença com a Marina e sem a Marina. A ministra Marina Silva garantiu a parte jurídica para a destruição da Amazônia. Ela aceitou o transgênico, que é totalmente inaceitável na Europa. Ela ajudou a implantação do Projeto Gestão de Florestas Públicas (dispõe sobre a concessão e gestão de florestas públicas para produção sustentável) que, na verdade, trata-se da mercantilização da Amazônia. Ela dá por 40 anos, prorrogáveis por mais 30, portanto, um total de 70 anos, de concessão às multinacionais e ao agronegócio para que explorem a Amazônia. A ex-ministra Marina Silva privatizou 5% de rios, lagos e mares para o agronegócio. Ela criou o selo FSC (Conselho Brasileiro de Manejo Florestal – a certificação é um processo voluntário em que é realizada uma avaliação de um empreendimento florestal, por uma organização independente, a certificadora, e verificado os cumprimentos de questões ambientais, econômicas e sociais), atendendo a interesses de várias organizações não-governamentais (ong’s), mas tudo isso não passa de “lavagem” (tornar legal) de madeira retirada ilegalmente. Ela nunca discutiu nada disso com os povos da Amazônia. A Marina Silva tem uma história muito bonita como seringueira, como militante social e como senadora, mas como ministra foi uma verdadeira decepção. Ela diz que a história irá mostrar… a história não irá mostrar: já está mostrando!
Jornal do Unificados – Resumidamente, qual é o caminho que o senhor indica para conciliar a produção de alimentos e de energia, com preservação do meio ambiente?
Osmarino – De princípio… de imediato, uma trégua para os grandes projetos que estão sendo implantados e desenvolvidos na Amazônia, pois, eles não possuem qualquer critério ecológico, biológico, etc. Assim, culturas milenares estão sendo destruídas. É preciso projetos que incentivem a produção de alimentos, é preciso o desenvolvimento de pesquisas nesse sentido, é preciso investimentos dirigidos diretamente para estes objetivos. É necessário incentivar a população a participar dos projetos, dos programas e garantir mercados para os alimentos a serem então produzidos e colhidos.