O Brasil se recuperou da crise mais rapidamente do que os Estados Unidos e os países europeus. A economia voltou a crescer e as empresas de modo geral, e do ramo químico especificamente, registraram crescimento acelerado e aumento na margem de lucro.
Com a recuperação econômica, aumenta a oferta de empregos, e fortalece a posição dos trabalhadores na mesa de reivindicações por aumento real nos salários e melhores condições de trabalho e vida.
Com data base em 01 de novembro, a campanha salarial do ramo químico chega agora em sua reta final, e a mobilização de todos os trabalhadores é importantíssima.
O Jornal do Unificados entrevistou o diretor-adjunto do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (UNICAMP), Anselmo Luiz dos Santos (foto acima). Entre outras coisas, ele afirma ser função dos trabalhadores e seus representantes negociar e impor limites para conter medidas como a pressão por aumento de produção e corte de custos.
ENTREVISTA
Jornal do Unificados: A economia brasileira se recuperou totalmente da crise econômica?
Santos: Desde o ano passado a economia brasileira já mostrava fortes sinais de recuperação e, neste ano, o PIB (Produto Interno Bruto – soma da riqueza produzida no país) cresce ainda de forma mais acelerada. O desemprego voltou a cair de forma expressiva, os salários estão subindo, o acesso ao crédito está normalizado e em expansão e, assim, o consumo das famílias tem aumentado significativamente.
Como o comércio internacional ainda sente os efeitos da crise, e como o real continua sobrevalorizado, a crise internacional ainda afeta negativamente o nosso comércio exterior que já vinha apresentando problemas antes dela, justamente por conta da sobrevalorização do real antes e depois da crise internacional.
Jornal do Unificados: O Unificados está em campanha salarial do ramo químico, que tem data base em 01 de novembro. Passada a crise, é um momento favorável aos trabalhadores?
Santos: Sim! Esse é um momento muito favorável; a economia cresce aumentando a oferta de empregos e reduzindo o desemprego, o que fortalece a posição dos trabalhadores e dos dirigentes sindicais nas reivindicações por maiores aumentos reais e benefícios.
A inflação está relativamente baixa e sob controle, o que contribui para que os índices reivindicados para aumento real de salários não tenham que ser tão elevados em relação a uma situação de inflação maior.
O comportamento favorável da economia brasileira melhora a situação econômico-financeira das empresas e contribuiu para a elevação da produtividade, o que, por outro lado, é favorável aos trabalhadores, porque significa que as empresas têm melhores condições para dar aumentos reais sem que isso tenha forte influência nos lucros ou em pressões para repassar os aumentos salariais para os preços.
Jornal do Unificados: É um momento favorável para conquistar aumento real nos salários então…
Santos: Como disse, é muito favorável, fato já observado em categorias que têm alcançado até 5% de aumento real de salários e outros benefícios.
Jornal do Unificados: Como está o cenário geral das campanhas salariais deste ano? Outras categorias conseguiram aumento real esse ano?
Santos: Os dados do primeiro semestre do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas), sobre negociações coletivas, mostram que uma proporção ainda maior delas (em relação o 2008) resultou em aumentos reais de salários.
É claro que temos que considerar que parte desse aumento real refere-se a ausência, reduções ou pequenos ganhos salariais obtidos em 2009.
Jornal do Unificados: Na base do Unificados, existem empresas que apesar dos seguidos aumentos no lucro, continuam com políticas de cortar custos e pressionar por aumento de produção. Qual a consequência dessas medidas aos trabalhadores?
Santos: Cortar custos e pressionar por aumento da produção e da produtividade faz parte da lógica capitalista e, portanto, isso faz parte do cotidiano e das estratégias de administração e de concorrência de qualquer empresa ou ramo produtivo.
É claro que traz benefícios para a empresa, melhora suas vantagens competitivas e o lucro de seus proprietários ou acionistas.
Por isso, uma das funções mais importantes dos trabalhadores e de seus representantes é negociar e impor limites a essa lógica das empresas, buscando conter as medidas adversas aos trabalhadores – do ponto de vista social, econômico, de sua saúde, vida familiar etc – e/ou reivindicando a sua parte (melhores salários, mais benefícios, ampliação dos direitos) nos resultados gerados com os ganhos de produtividade alcançados por medidas que não deteriorem a vida dos trabalhadores, pois esses resultados são sempre frutos de seu próprio trabalho.