O início da campanha eleitoral trouxe uma grande discussão sobre a liberdade de imprensa e censura no país. Isso porque o artigo 28 da lei 9504/1997 proíbe “trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido político ou coligação” durante o período eleitoral.
Na prática, a lei proíbe programas humorísticos de tratar do assunto que está em voga na sociedade: as eleições de 2010. Humoristas de diversos meios de comunicação passaram a contestar a lei, e até uma passeata foi organizada na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Com toda comoção criada em torno do assunto, o ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu uma liminar que libera os programas de humor a fazerem sátiras com os candidatos.
Autor: André Dahmer
O humor é peça fundamental em qualquer sociedade, e por meio de imitações, montagens, piadas, desenhos, entre outras coisas, humoristas fazem a sociedade refletir sobre seus problemas.
As histórias em quadrinhos surgiram no final do século XIX e, muito antes dos super-heróis, tiveram seu início diretamente ligado ao humor e as sátiras. Ao longo do tempo, diversos tipos de quadrinhos foram criados, mas o humor sempre foi peça fundamental nesse tipo de arte.
Cartunista André Dahmer – foto: Ane Aguirre
Com o surgimento da internet um novo campo se abriu para os quadrinhos, e muitos artistas puderam então publicar seus trabalhos. Nesta edição, o Jornal do Unificados traz uma entrevista com o quadrinhista André Dahmer, autor do site www.malvados.com.br.
ENTREVISTA
Unificados: Como começou a escrever quadrinhos? O que te motiva a desenhar?
Dahmer: Comecei a fazer quadrinho por impulso de vida, a mesma fome que me motiva a continuar no desenho.
Unificados: Dá para viver só de quadrinhos no Brasil?
Dahmer: Não acredito em chantagem econômica (capitalismo), até porque não preciso de muito dinheiro para viver bem.
Unificados: Seus personagens são contemporâneos, falam sobre o cotidiano e problemas atuais, como meio ambiente e internet. Fale um pouco sobre isso.
Dahmer: Tenho feito quadrinhos de costumes, gosto de falar do presente e de suas contradições. Não sei se sou a melhor pessoa para avaliar o meu trabalho, mas tenho feito esforços para tratar do que é contemporâneo.
Unificados: Como é criar uma tira nova todos os dias? Como lida com a rotina?
Dahmer: Não gosto de rotina, trabalho com uma janela de tempo para poder desenhar no melhor momento, com prazer, sem obrigação. A obrigação já destruiu muito trabalho bom, não sou bobo de deixar que isso aconteça comigo.
Unificados: O excesso de escândalos na política hoje é um bom tema para quadrinhos?
Dahmer: Sempre foi, o Brasil é ótimo para quem, como eu, trabalha com o absurdo.
Unificados: Como vê toda essa discussão sobre o humor nas eleições? Acha que os quadrinhos fazem parte dela?
Dahmer: É uma bobagem, fere a constituição. Juiz algum bateria o martelo contra a liberdade de expressão plena, acho. É uma truculência que os tribunais não podem acatar.
Unificados: Como vê o futuro dos quadrinhos no Brasil? Existe espaço para crescimento?
Dahmer: Não estou muito preocupado com mercado. Crescendo ou diminuindo, gosto de fazer quadrinhos.
Autor: André Dahmer