“Segundo relatório divulgado pela Cetesb, esse aumento das áreas foi registrado em apenas um ano, entre 2006 e 2007”
Maria Teresa Costa
DA AGÊNCIA ANHANGÜERA
teresa@rac.com.br
“O número de áreas contaminadas na Região Metropolitana de Campinas (RMC) aumentou 54,2% em um ano, de 2006 para 2007, e já é seis vezes maior do que há sete anos, quando a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) iniciou a divulgação de relatórios anuais da situação do Estado de São Paulo. O levantamento de novembro do ano passado apontou que os postos de combustíveis são os principais vilões da contaminação de solo. Das 199 áreas listadas no ano passado pela Cetesb, 126 delas foram poluídas por esses estabelecimentos. A indústria é a segunda maior poluidora, seguida do comércio. A RMC concentra 8,5% das 2.272 áreas contaminadas identificadas no ano passado em todo o Estado.
Os postos de combustíveis são os maiores poluidores
Técnicos da Cetesb informaram que a agência ambiental vem conduzindo um programa para reduzir os impactos provocados pelo comércio de combustíveis, exigindo troca dos equipamentos com mais de 15 anos de operação e a investigação da situação ambiental do empreendimento a ser licenciado. Esse seria o motivo principal, segundo os técnicos, pelo aumento do número de áreas contaminadas, ou seja, os licenciamentos obrigatórios estão levando à descoberta de novas áreas.
Segundo a Cetesb, a existência de uma área ambientalmente comprometida pode gerar diversos problemas – prejuízo à saúde humana, comprometimento da qualidade dos recursos hídricos, restrições ao uso do solo e danos ao patrimônio público e privado, com a desvalorização das propriedades, além do meio ambiente.
O ambientalista Mário Lagos Peixoto observou que a situação vivida hoje é resultado de práticas inadequadas no manejo de substâncias perigosas adotadas no passado. “Temos situações na região, como é o caso do Aterro Mantovani, em Santo Antonio de Posse, que começaram a ser contaminadas há mais de 30 anos. O que é preciso agora é rigor na remediação dos estragos causados, mas tudo isso vem acontecendo de forma muito lenta”, afirma Peixoto.
Os principais contaminantes encontrados na RMC foram solventes aromáticos, combustíveis líquidos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs), metais e solventes alogenados. Os PAHs são especialmente tóxicos e potencialmente carcinogênicos.
Campinas concentra a maior quantidade de locais contaminados da região, com 86 áreas, a maioria postos de combustíveis. Mas há pelo menos três situações de contaminação grave do solo. Uma delas é o Aterro Sanitário Delta, para onde é levado o lixo domiciliar do município. Metais e elementos microbiológicos são os principais contaminantes. No local, solo, subsolo e águas superficiais e subterrânea estão contaminados. Por enquanto, está sendo feito um monitoramento ambiental.
Outra área importante é da Adere Produtos Auto-Adesivos Ltda, na Via Anhangüera. Solo, subsolo e águas subterrâneas foram contaminados por solventes aromáticos e PAHs. A remediação da área está em andamento com monitoramento operacional, segundo a Cetesb. Também está em processo de remediação a área da Ashland Resinas Ltda, também na Anhangüera, onde solo, subsolo e água subterrânea foram contaminados por metais, solventes halogenados e aromáticos.
Depois de Campinas, Paulínia é a cidade da RMC com maior número de áreas contaminadas (33), especialmente pelo comércio de combustíveis. Pelo menos a metade está em processo de remediação.
Empresas iniciam reparação na área do Aterro Mantovani
Considerado pela Defensoria da Água como o pior caso de contaminação do País, o Aterro Mantovani, em Santo Antonio de Posse, acumula 326 mil toneladas de resíduos industriais tóxicos depositados de forma inadequada entre 1973 e 1987 por 60 empresas, a maioria multinacionais, comprometendo o subsolo e águas subterrâneas. A partir de um acordo formalizado no Ministério Público (MP), as empresas começaram, no ano passado, a retirar parte dos contaminantes. O acordo prevê a retirada, até agosto, de 15 mil toneladas de borras oleosas que serão incineradas em forno de cimento no Rio de Janeiro.
Segundo o gerente da Cetesb, Lúcia Flávio Furtado de Lima, as empresas têm autorização para retirar, em condições de segurança, 5 mil toneladas que estão sendo enviadas para queima em forno de cimento no Rio, 1,3 mil para uma empresa de Sorocaba que prepara o material e depois envia para queima e mais 2,7 mil para fornos na cidade mineira de Barroso. As empresas estão buscando as licenças necessária para as outras 6 mil toneladas de material tóxico já retiradas.
Desde 2001, quando foi formalizado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), as empresas investiram R$ 22 milhões na área do aterro. A previsão é de que a remediação total vai custar R$ 200 milhões e levará pelo menos 20 anos para ser concluída.
A agência ambiental já rejeitou, em 2005, a proposta apresentada pela empresa CSD Geoklock para o Aterro Mantovani. A CSD propôs retirar parte dos resíduos e confinar o restante no próprio aterro, a uma custo estimado de R$ 67 milhões. A Cetesb defende a remoção total dos resíduos e sua destinação adequada, em um custo calculado pela CSD de R$ 200 milhões. A CSD-Geoklock foi contratada, em 2001, para implantar medidas emergenciais de segurança e elaborar um diagnóstico ambiental para a remediação da área. Os moradores da região, na maioria sitiantes, estão apreensivos. Muitos seguem impossibilitados de usar água de poço por causa da contaminação subterrânea. As empresas vêm fornecendo água aos moradores, como parte do acordo formalizado no MP.
Um dos casos mais recentes de contaminação de solo e água subterrânea foi denunciado no final do ano passado de uma área do distrito de Nova Veneza, em Sumaré, onde é possível atear fogo na água retirada de um poço próximo ao Frango Assado, dono do centro de serviços automotivos, suspeito de ser o agente da contaminação por combustíveis. Uma equipe de geólogos está perfurando o local para identificar o avanço da pluma de contaminantes.
Segundo a Cetesb, o gerenciamento da área está em fase de investigação confirmatória e detalhada. Já foi detectada contaminação por combustíveis líquidos do subsolo e da água subterrânea tanto dentro quanto fora do posto. O poço contaminado, por exemplo, fica em um sítio do outro lado do posto, atravessando a Anhangüera.
O Frango Assado alega que os produtos inflamáveis encontrados na vizinhança têm outra origem e que poderia vir de materiais que vazaram de dutos que transportavam combustíveis para a Refinaria de Paulínia (Replan). Isso já ocorreu no passado, quando dois sítios foram contaminados pelo vazamento. Uma investigação busca identificar a causa para que sejam tomadas medidas reparatórias na área. (MTC/AAN)”
Fonte deste Informativo
A matéria acima é reprodução de reportagem publicada no jornal Correio Popular, de Campinas, no dia 09 de fevereiro de 2008. O texto está reproduzido na íntegra e é de autoria de Maria Tereza Costa, da Agência Anhanguera. Das quatro fotos no jornal, aqui estão reproduzidas duas, ambas de Marcelo Geovanini/AAN. A arte é da Editoria de Arte/AAN, com fonte na Cetesb /Relatório 2007.