Emanuela Abrantes Rios, de 25 anos, recebeu demissão depois de bateria de exames e afastamento causado por lesão por esforço repetitivo (LER).
O caso não é o único na empresa
Em 1º de outubro de 2007, Emanuela voltou ao trabalho depois de 17 dias de afastamento da empresa. Ela tinha ficado com os braços imobilizados devido a tendinite e bursite, doenças que ganhou com o serviço repetido e mecânico nas linhas da Natura.
Ao voltar, ficou longe das máquinas, como solicitara o médico, pois ainda sentia muitas dores nos ombros, mãos e punhos.
Trabalhadora da Natura desde 2004, Emanuela começou a sentir dores em 2006, data do primeiro exame que comprovou alteração em sua saúde. Enfrentava longas filas no ambulatório da empresa. Além das dores que a incomodavam, não gostava que a situação atrapalhasse seu trabalho.
Mas, o pior ainda estava por vir. Dois dias depois da volta ao trabalho, em 03 de outubro de 2007, Emanuela foi demitida.
Demissão
Segundo Emanuela, três dias antes da demissão, em 30 de setembro, ela recebeu o mérito, um prêmio pela sua dedicação à empresa. Então, por que fui demitida?, se pergunta. Para Emanuela, a chefia falou que a célula (grupamento de produção) queria sua demissão. Para a célula, a empresa disse que ela tinha sido demitida porque estava com problemas psicológicos.
Doença do trabalho
Para o sindicato, a trabalhadora foi demitida por causa de sua doença ocupacional. As empresas nunca arcam com a responsabilidade e demitem trabalhadores lesionados para substituí-los por outros. O caso de Emanuela não é o único na Natura. O sindicato recebe constantes denúncias e pedidos de ajuda de trabalhadores (ras) da Natura com fortes dores nas articulações.
Laudo que deu ormal deve ser desconsiderado
Depois de passar pelo assessor médico do trabalho do Sindicato Químicos Unificados, Dr. Roberto Ruiz, em dezembro, Emanuela realizou um exame que apresentou resultado “normal”. Segundo Dr. Ruiz, o esperado era que a ultra-sonografia desse um resultado diferente de “normal”, uma vez que o exame clínico mostrou que a trabalhadora estava com sérios problemas. Esse resultado “normal” serviu para a Natura demitir Emanuela e para a chefia dizer que ela poderia trabalhar em qualquer outro lugar.
Não satisfeitos, a trabalhadora e o sindicato procuraram outro laboratório. O resultado apontou tendinite e bursite, como em outras ultra-sonografias anteriores.
Então, com a insistência de Emanuela e do sindicato, foram feitos novos exames naquele mesmo laboratório em que os resultados haviam sido ormais. Dessa vez, foram detectados tendinite, bursite e ainda uma lesão de 4 milímetros no tendão do ombro.
O coordenador médico do laboratório, Dr. Jorge Lenson, enviou documento ao sindicato confirmando que o exame a ser considerado é o último, que mostra que a trabalhadora está realmente doente.
Está marcada reunião entre o sindicato e a Natura em 12/02, terça-feira, para discutir o caso Emanuela. O sindicato exige a reintegração já da trabalhadora. A Natura está localizada no município de Cajamar e tem cerca de 4 mil trabalhadores (as).
Como é o auxílio por doença do trabalho?
A lei assegura auxílios (em caso de doenças e acidentes) aos trabalhadores contribuintes do INSS, mas muitos patrões enrolam seus trabalhadores
Quando os acidentes e as doenças são desencadeados pelo exercício do trabalho, o trabalhador é afastado, o patrão é obrigado a continuar recolhendo o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e, após o retorno às atividades, o trabalhador tem direito à estabilidade no emprego por um ano.
O problema é que muitos patrões não comunicam a Previdência Social. São numerosos os casos em que o trabalhador está com doença do trabalho, mas o patrão notifica o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) como se fosse uma doença não causada pela atividade profissional exercida. Dessa forma, o empregador não recolhe o FGTS e pode despedir o empregado assim que este recebe alta previdenciária.