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Ato político encerra ocupação pelo MST em Barra Bonita/SP

O grupo de aproximadamente 600 mulheres integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) que havia ocupado terras do Grupo Cosan em Barra Bonita/SP encerrou ontem (11/03/09) a mobilização de três dias, conforme planejado inicialmente. Após uma passeata na propriedade rural e um ato em frente à portaria principal da usina o grupo deixou a área.

Saida da área, com objetivos cumpridos (Foto: João Zinclar - 11/03/09)

Saída da área, com objetivos cumpridos
(Foto: João Zinclar – 11/03/09)

Durante os três dias de ocupação não ocorreram incidentes. No segundo dia (10/03) a situação ficou tensa com a presença de um oficial de Justiça que apresentou decisão judicial de reintegração de posse, acompanhado por policiais militares e seguranças particulares do Grupo Cosan, mas a ordem judicial não foi executada.

Leia sobre o segundo dia da ocupação em: https://www.quimicosunificados.com.br/2120/

Simbologia

A ocupação de uma área plantada com cana teve o objetivo específico de denunciar a monocultura predatória e especulativa pelo agronegócio e pelo latifúndio, de olho nos altos lucros do álcool combustível e abandonando a agricultura de alimentos que é de interesse imediato da população.

Ato político em frente à entrada principal da administração do Grupo Cosan (Foto: João Zinclar - 11/03/09)

Ato político em frente à entrada principal da administração
do Grupo Cosan (Foto: João Zinclar – 11/03/09)

Ao final da passeata, em frente à administração da Cosan, junto aos policiais e seguranças particulares, cada manifestante depositou um pé de cana-de-açúcar e o bastão que usam para apoio em longas caminhadas, como protesto simbólico pela monocultura e prioridade do lucro sobre os alimentos, que são de primeira necessidade para a sociedade.

Grupo Cosan

A unidade da Barra, local da manifestação em Barra Bonita, é a maior usina de açúcar e etanol do mundo em capacidade de moagem de cana, um símbolo do setor sucroalcooleiro no país. Segundo estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a usina do grupo Cosan explora perto de 70 mil hectares de terra, dos quais cerca de 20 mil hectares são de propriedade da própria empresa, e os demais são arrendados, abarcando seis municípios da região.

Dia Internacional da Mulher

 	As companheiras em ato simbólico pela plantação de alimentos (Foto: João Zinclar - 11/03/09)

As companheiras em ato simbólico pela plantação de
alimentos (Foto: João Zinclar – 11/03/09)

Mulheres Camponesas na Luta Contra o Agronegócio, por Reforma Agrária e Soberania Popular é o titulo da mobilização realizada pelas mulheres do MST em todo o Brasil, em comemoração ao 8 de Março – Dia Internacional da Mulher.

Em seu manifesto, o movimento afirma: “Nós mulheres, camponesas, ribeirinhas, extrativistas, indígenas, quilombolas e sem-terra, queremos denunciar com nossas ações políticas a extrema gravidade da situação dos trabalhadores rurais no Brasil.. Não nos subordinaremos a este modelo capitalista e patriarcal de sociedade, concentrador de poder e de riquezas. Não queremos o projeto de agricultura do agronegócio, hidronegócio e das empresas transnacionais no Brasil.”

“Mobilizamos-nos para denunciar a crise política, econômica, social e ambiental criada pelas elites que controlam o Estado: capital financeiro internacional e transnacional. Não aceitamos pagar a conta da crise, com a superexploração de nosso trabalho, baixos salários, aumento da jornada de trabalho e com o avanço da exploração sobre os recursos naturais…”

Trabalhadoras do MST reunidas na área ocupada (Foto: João Zinclar - 11/03/09)

Trabalhadoras do MST reunidas na área ocupada
(Foto: João Zinclar – 11/03/09)

Mobilização no Brasil

Todas iniciadas em 9 de março, estas foram as ações promovidas pelo MST:

* Brasília – Ocupação do Ministério da Agricultura
* R. G. do Sul – Ocupação da fazenda de eucaliptos Votorantim, em Candiota
* São Paulo – Ocupação da fazenda do Grupo Cosan, em Barra Bonita
* Alagoas – Ocupação de fazenda da cana do grupo João Lira, em Branquinha
* Espírito Santo – Ocupação do porto da Aracruz Celulose, em Barra do Riacho

Marcha do MST na fazenda do Grupo Cosan (Foto: João Zinclar - 11/03/09)

Marcha do MST na fazenda do Grupo Cosan
(Foto: João Zinclar – 11/03/09)

A caminhada das companheiras do MST, sob chuva (Foto: João Zinclar - 11/03/09)

A caminhada das companheiras do MST,
sob chuva (Foto: João Zinclar – 11/03/09)


Saiba mais

Visite http://www.mst.org.br/mst/index.html – o endereço do MST na internet – e conheça o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, sua história, linhas políticas, escolas, ocupações de sucesso, objetivos e campanhas. Conheça também o predatório agronegócio, que coloca o meio ambiente e vidas humanas em risco. Além dos transgênicos.

Editorial do Brasil de Fato

A seguir, editorial publicado hoje (12/03/09) pelo jornal Brasil de Fato – http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia

Esperamos que a sociedade e as autoridades
entendam esse alerta, antes que sejam tarde


Nos últimos dias tivemos uma grande mobilização de mulheres do campo e da cidade, ao redor das celebrações do Dia Internacional de Luta da Mulher. Milhares de militantes de diversos movimentos sociais do campo e de entidades que apóiam as lutas feministas e a reforma agrária realizaram diversos atos simbólicos em todo país.

Mas, afinal, contra o que combateram as mulheres? Muita gente poderia pensar que, em função da celebração do 8 de março, haveriam apenas manifestações anti-machistas, contra o capitalismo patriarcal, que explora duplamente as mulheres, seu trabalho e sua condição feminina. Mais além dessa consciência, as mulheres romperam novamente o silêncio para bradar contra a crise e contra o modelo do agronegócio.

De um tempo para cá, a dominação do capital financeiro e das empresas transnacionais sobre a agricultura brasileira impôs um novo modelo de organização da produção no campo, que concentra terra e se apropria dos recursos naturais. Transforma tudo em mercadoria, aumenta a exploração do trabalho, mecaniza e expulsa a mão-de-obra e abusa do uso de agrotóxicos que destroem a natureza e envenenam os alimentos.

Os governos, satisfeitos, estimulam tal modelo. São coniventes e procuram apenas fazer suas alianças eleitorais.

Os fazendeiros brasileiros, grandes proprietários de terra, comemoram sua aliança com as transnacionais, que lhes garante mercado e preço. Ao povo, fica só a exploração, pois a Lei Kandir isenta os produtores até de pagar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços (ICMS).

Nessas circunstâncias, o agronegócio passou a controlar grandes extensões de terra em todo o país, avançou sobre os recursos da Amazônia e impôs a produção apenas para a exportação: pecuária extensiva, etanol, café, soja e milho. Mas isso não desenvolve o país. Apenas concentra riqueza nas mãos de alguns e gera ainda mais pobreza e desigualdade social, que só não se transforma em tragédia por causa do Bolsa Família. Para se ter ideia, existem 11 milhões de famílias recebendo comida mensalmente; destas, dois milhões residem no campo. São trabalhadores e trabalhadoras que poderiam viver com seu trabalho produzindo na agricultura.

Os alimentos se transformaram em mera mercadoria, compra quem tem dinheiro. Além disso, estão cada vez mais contaminados por agrotóxicos.

Com a crise do capitalismo, esses problemas não só não se resolveram como se agravaram e os alimentos ficaram mais claros. Algumas empresas do agronegócio como Aracruz, Sadia, Votorantim, Perdigão e dezenas de usinas estão a ponto de falir. Mas, eis que a mão salvadora do Estado – sempre renegado pelas elites com o neoliberalismo e o tal Estado mínimo – agora os socorre. O governo do Brasil, através do BNDES, repassou bilhões de reais para salvá-las. Mas, não satisfeitos com isso, os ruralistas pressionaram e a União aceitou regularizar terrenos de até dois mil hectares por pessoa, de todas as terras griladas na Amazônia. E, se cada fazendeiro grileiro tiver quatro familiares, já poderá legalizar oito mil hectares. É a legalização da grilagem e a apropriação legalizada dos recursos naturais que são de todo o povo.

E não para por aí. Avança o controle das empresas transnacionais também sobre as sementes. Ou seja, através da “aprovação” das sementes transgênicos, estas vão monopolizando o mercado. O milho geneticamente modificado estava proibido, mas foi liberado em 2008. E, já na primeira safra, as empresas venderam sementes transgênicas para mais de 52% da área cultivada. Esses grãos vinham sendo cultivados ilegalmente e ninguém falava nada.

O monocultivo do eucalipto também avança em todo o país. São usados para a produção do carvão vegetal e para celulose destinada à exportação. Os efeitos são devastadores. No Rio Grande do Sul, já há comunidades que precisam de carro-pipa para se abastecer de água, tal o desequilíbrio que a destruição da biodiversidade provoca, devido a essas monoculturas.

Para denunciar todos esses absurdos decorrentes do modelo do agronegócio e pedir mudanças na política agrícola, é que as mulheres da Via Campesina se mobilizaram em todo país. Deram o seu recado.

Esperamos que a sociedade e as autoridades entendam esse alerta, antes que sejam tarde.

A imprensa da burguesia e setores do Poder Judiciário optaram por cumprir seu papel de classe: condenar as manifestações legítimas das trabalhadoras. Isso mostra que a imprensa corporativa brasileira se transformou apenas em guardiã dos interesses da classe de seus proprietários, além de buscar o lucro, é claro. Já no Judiciário, a direita brasileira construiu seu mais novo líder, o pequeno-grande Berlusconi, o senhor Gilmar Mendes, que, do alto do cargo que lhe foi doado pelo seu ex-patrão Fernando Henrique Cardoso, se considera acima um verdadeiro “dulce” todo poderoso. Apesar de presidente do Superior Tribunal Federal (STF), se arvora o direito de opinar sobre tudo e sobre todos. Inclusive tem a pachorra de telefonar para os governadores exigindo repressão aos movimentos sociais e cobra de juízes de primeira instância mais celeridade contra os trabalhadores.

Sobre os crimes dos capitalistas, dos latifundiários, dos banqueiros, dos Dantas da vida: silêncio. Mais de 60% dos parlamentares respondem processos. E a sua imprensa fiel escudeira lhe garante espaço de pop star.

O povo brasileiro não merece uma classe dominante tão medíocre.

Como fez falta uma verdadeira revolução francesa neste país.

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