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Cosan ameaça retirada violenta das mulheres do MST, em Barra Bonita/SP

Na manhã desta terça-feira (10/03/09), por volta das 7h, dois oficiais de justiça acompanhados de um representante do grupo sucroalcooleiro Cosan entregaram uma reintegração de posse às mulheres que ocupam desde ontem uma área da empresa no município de Barra Bonita, na região de Jaú-SP. Calados, os oficiais deixaram que o representante da Cosan tomasse a frente da entrega do documento. O profissional, que se apresentou como coordenador de segurança da empresa, ameaçou utilizar violência policial para retirar as cerca de 600 mulheres e 40 crianças que estão no local.

Oficial de justiça com reintegração de posse: clima fica tenso (Foto: João Zinclar - 10março09)

Oficial de justiça com reintegração de posse:
clima fica tenso (Foto: João Zinclar – 10março09)

Desde cedo seguranças privados armados e sem identificação estão rondando o acampamento com motos e carros. Viaturas da Polícia Militar também já estão em frente ao acampamento. O clima é de muita tensão no local, e a qualquer momento pode haver a retirada à força das acampadas. Apesar da apreensão, em assembléia realizada agora de manhã, as mulheres decidiram permanecer no local e continuar o corte da cana para a ampliação do acampamento e o aprofundamento das denúncias contra a indústria da cana-de-açúcar e do álcool em todo estado. “O grupo Cosan, sozinho, teve um lucro de R$ 2,7 Bilhões no último ano, enquanto nós milhares de trabalhadoras e trabalhadores seguimos enfrentando o desemprego, a falta de terras para cultivar, e de alimentos para os nossos filhos”, afirmou Kelli Mafort, da coordenação estadual do movimento. “Por que será que a chamada justiça nunca nos trata com a mesma prontidão?”, complementou indignada.

O ato-denúncia

Dia 09 de março amanhece com o MST já trabalhando nas terras do grupo Cosan (Foto: João Zinclar)

Dia 09 de março amanhece com o MST já trabalhando
nas terras do grupo Cosan (Foto: João Zinclar)

A ocupação foi realizada na manha desta segunda-feira (09/03), e teve a participação de cerca de 600 mulheres da Via Campesina. Segundo nota do movimento, “a mobilização tem como objetivo denunciar a insustentabilidade do agronegócio, a superexploração do trabalho e a conivëncia do Estado, que financia a partir de recursos públicos o avanço do capital no campo”. De acordo com participantes da ocupação, a atividade procura ainda denunciar especificamente os impactos ambientais e sociais desse modelo de desenvolvimento e do setor sucroalcooleiro em todo o estado, além de exigir que o governo priorize a realização da reforma agrária ao invés de continuar socorrendo grandes grupos financeiros que, na visão delas, produziram esta crise econômica.

A recente onda de criminalização e violência contra os movimentos sociais também está sendo denunciada pelas manifestantes. A ocupação faz parte da jornada nacional de lutas “Mulheres camponesas na luta contra o agronegócio, pela Reforma Agrária e soberania alimentar” da Via Campesina, e foi inspirada pelo dia internacional da mulher (08/03).

Conforme declarou Soraia Soriano, da direção nacional do movimento, “apenas o grupo Cosan explora uma extensão de terras duas vezes maior do que o total de hectares destinados para a reforma agrária no estado de São Paulo: são 605 mil hectares pelo grupo, contra somente 300 mil para as 15 mil famílias, entre assentamentos estaduais e federais”. Ela denuncia que, diante da crise econômica, o setor passou a receber ainda mais incentivos do Estado, sobretudo do BNDES, enquanto a reforma agrária segue sendo negligenciada e as trabalhadoras rurais passando por cada vez mais dificuldades, inclusive crescente desemprego. “Na última quinta-feira [05/03], o ministro da agricultura Reinhold Stephanes anunciou mais um socorro financeiro para os usineiros, no valor de R$ 2,5 bilhões – mesmo o setor tendo sido o campeão de demissões no campo em dezembro de 2009. São recursos tirados de nós, trabalhadoras e trabalhadores (boa parte deles do Fundo de Amparo ao Trabalhador), para cobrir as aventuras de grupos econômicos que nos exploram, nos descartam e destroem o meio-ambiente na sua compulsão por lucros”, afirma.

Grupo Cosan

Trabalhadoras na terra junto a depósitos da Cosan (Foto: João Zinclar - 10março09)

Trabalhadoras na terra proximo a tanques da Cosan,
em Barra Bonita/SP (Foto: João Zinclar – 10março09)

A unidade da Barra, local da manifestação, é a maior usina de açúcar e etanol do mundo em capacidade de moagem de cana, um símbolo do setor sucroalcooleiro no país. Segundo estudos do BNDES, a usina do grupo Cosan explora mais de 70 mil hectares de terra, dos quais cerca de 18 mil hectares são de propriedade da própria empresa, e os demais são arrendados, abarcando seis municípios da região.

O movimento alega que existem 103 denúncias no Ministério Público do Trabalho contra o grupo Cosan, apenas em São Paulo. Entre as notificações estariam problemas relativos a trabalho temporário e terceirização fraudulenta, assédio moral e desvio de FGTS. Segundo a nota do movimento, “de acordo com o artigo 186 da Constituição, a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos seus trabalhadores”.

Kelli Mafort, uma das porta-vozes do ato, baseia-se nesta legislação e leva adiante o seu raciocínio: “as terras do grupo Cosan não cumprem o seu papel social e, ao contrário, trazem impactos profundos para o meio ambiente. Assim estão em total desacordo com o quê prevê a Constituição do país, por isso devem ser destinadas para a reforma agrária imediatamente”.

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No dia da ocupação da área do grupo Cosan, em Barra Bonita (Foto: João Zinclar - 09março09)

No dia da ocupação da área do grupo Cosan,
em Barra Bonita (Foto: João Zinclar – 09março09)

Visite http://www.mst.org.br/mst/index.html – o endereço do MST na internet – e conheça o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, sua história, linhas políticas, escolas, ocupações de sucesso, objetivos e campanhas. Conheça também o predatório agronegócio, que coloca o meioambiente e vidas humanas em risco. Além dos transgênicos.

Leia também sobre a enorme concentração de terras improdutivas nas mãos de latifundiários especuladores e exploradores, enquanto milhões de trabalhadoras e trabalhadores rurais não têm um palmo de chão para plantar ou morar e são, assim, obrigados a enfrentar, com a família, uma dura, marginalizada e discriminada vida na periferia das grandes cidades.

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Integrantes do MST se aproximam de canavial, no grupo Cosan (Foto: João Zinclar - 10março09)

Integrantes do MST se aproximam de canavial,
no grupo Cosan (Foto: João Zinclar – 10março09)

Mobilização em Barra Bonita é também contra os transgênicos (Foto: João Zinclar - 10março09)

Mobilização em Barra Bonita é também contra os
transgênicos (Foto: João Zinclar – 10março09)

Fonte: Brasil de Fato – 10/03/2009
http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=6423
Fotos: João Zinclar – (19) 9121.8425

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