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Rearmamento na América do Sul?

do Unificados

As licitações recentes feitas pelo governo brasileiro para a compra de caças têm suscitado discussões que nos fazem pensar: o continente está se armando?

Geraldo Cavagnari, coronel da reserva pesquisador na Unicamp (Foto: Antoninho Perry - Ascom Unicamp)

Leia a seguir entrevista do Jornal do Unificados com Geraldo Lesbat Cavagnari Filho (foto) , 75 anos, fundador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp.

Para ele, há a tendência de modernizar as forças armadas, mas não exatamente para ser contra os Estados Unidos da América (EUA). O pesquisador analisa a geopolítica da região, mostrando como se dá a ação estratégica norte-americana especialmente nas bases mantidas e na reativação da 4ª. Frota em operações militares no Atlântico.

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ENTREVISTA

Discurso conflitivo

Unificados: Está havendo um rearmamento na América Latina? Há intenção de um contraponto aos EUA?

Geraldo: Sim, devemos ver esse rearmamento com o enfoque no seguinte ponto: de modo geral, as forças armadas latino-americanas estavam num processo de desgaste muito grande, então havia necessidade de se modernizar essas forças armadas. Não houve um rearmamento para a guerra, eu não vejo dessa maneira.

Unificados: Então o senhor não vê que haja a intenção de um contraponto aos EUA?

Geraldo: Não, não vejo. Aqueles países que pertencem à área bolivariana, Venezuela, Equador e Peru, de certo modo, investem num contraponto aos EUA na América do Sul.

Não é o caso do Brasil, não é o caso do Peru, não é o caso do Chile, nem da Colômbia, de nenhum desses países. Agora, a Venezuela desde o início, com Chávez, tem apresentado um contraponto aos EUA. Esse rearmamento de modo geral visa resgatar das forças armadas sul-americanas o nível de crescimento da capacidade de compra de frota, isso é elogiável para qualquer país.

Unificados: O que significa a reativação da 4ª. Frota e instalação de bases na Colômbia? Uma contraposição a essa posição ideológica bolivariana?

Geraldo: Em parte. Até a 2ª. Guerra Mundial, os EUA estavam preocupados com a Inglaterra. Com o fim da guerra, como o mundo desembarcou num processo chamado Guerra Fria, eles continuaram com essa 4ª. Frota porque os países não vulneráveis ao confronto ideológico eram sociedades, de certo modo, ainda com fraturas, por exemplo, o Brasil naquela época – isso por causa da investida soviética através de uma luta ideológica na América do Sul. Isso se estendeu até o colapso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Quando desapareceu a grande potência mundial chamada União Soviética, não havia mais necessidade dessa presença no Atlântico Sul, então eles desativaram a 4ª. Frota.

É importante ver que a segurança deles é uma segurança que vai muito além da fronteira natural. A segurança deles é uma segurança próxima e uma segurança afastada: está na Europa, está na África, está no Oriente Médio, no Pacífico e no Sudeste Asiático. Eles têm base no Japão, eles têm base nas Filipinas, eles têm base na Alemanha, eles têm controle do Mediterrâneo, eles têm o controle do Índico, região onde está Israel, Iraque etc.

Os EUA recuam na América do Sul e o Brasil, então, concebe uma política através de um caminho pacífico, não militar, para transformar a América do Sul numa zona de paz e cooperação. Em 1988, a ONU decreta/resolve que é uma zona de paz e cooperação. O Brasil teria que expandir essa zona de paz e cooperação, mas, para isso, era importante estabelecer uma política com os países da vizinhança.

Unificados: E isso de fato ocorreu?

Geraldo: A Venezuela foi o complicador, embora o Brasil não diga isso. A Venezuela tem um discurso conflitivo contra os EUA, que ainda estavam na Guerra Fria, estavam em Manta, no Equador, e com alguma presença militar na Colômbia. A proposta bolivariana, de Bolívar, era juntar a Venezuela e a Colômbia num só país. Esse era o projeto bolivariano. Ele não conseguiu: houve uma fratura e surgiram dois países: um chamado Colômbia e outro Venezuela. Quando o Chávez consegue chegar ao poder pela via constitucional, para conseguir atender o projeto de Bolívar ele teria que ter a Colômbia, mas pela via normal política ele não teria êxito porque a Colômbia é um país de democracia avançada, a democracia mais longeva da América do Sul que não esteve sob tutela de políticos militares, de ditadura. Então Chávez foi pela via de fortalecer as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc) para lutarem pela via da insurreição na Colômbia.

Quando o Equador declarou que não ia renovar o contrato com os EUA (dos EUA permanecerem na base de Manta, que declaradamente existia para acompanhar a questão do narcotráfico e também ter uma presença militar na América Latina), eles (EUA) viram que não havia possibilidade de arrancar do Equador um novo contrato. Aí eles procuraram o país que mais precisavam deles: a Colômbia. Por quê? Chávez e Farc, o narcotráfico. É um escudo em face da Venezuela. Essas bases fortaleceram a Colômbia em termos militares e em termos políticos.

Para o Chávez isso foi um tiro no pé porque a presença dos EUA não representa fisicamente militar combatendo. É a presença de investimentos militares invasivos dentro do território venezuelano. É a alta tecnologia que trabalha para a inteligência, para obter informações.

A 4ª. Frota é para os países com litoral, basicamente EUA, Brasil e Argentina e Uruguai (mas Uruguai está fora desse jogo). Não há nenhuma, nenhuma ameaça aos americanos no Atlântico Sul. Não importa que o Brasil tenha uma posição na América do Sul, importa que não contrarie os interesses deles. Agora, as bases na Colômbia são sim um recado para Chávez, um escudo em face da Venezuela.

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