Sindicalistas brasileiros e europeus estão na Colômbia para denunciar violência do governo e da Coca-Cola contra trabalhadores
A Colômbia tem servido como modelo de uso extremado da violência para a implantação a ferro e fogo do neoliberalismo. Todas as formas de organizações populares, sociais e sindicais que tentam a isso resistir estão sendo exterminadas. Indígenas, trabalhadores e camponeses são presos, expulsos de seus locais de trabalho ou moradia e assassinados. Essa ação faz parte do Plano Colômbia, que visa transformar o país em extensão e base militar do imperialismo capitalista, cultural e militar dos Estados Unidos que pretende, com esse projeto, constituir uma cabeça de ponte para se apoderar e internacionalizar toda a Amazônia, inclusive área situada em território brasileiro.
Apoio e denúncia
Em solidariedade à população e aos trabalhadores colombianos, uma delegação de sindicalistas brasileiros e europeus está na Colômbia desde o último dia 7, onde ficará até o dia 21. Entre eles, três dirigentes do Sindicato Químicos Unificados (Campinas, Osasco e Vinhedo).
Com essa visita, os sindicalistas, juntamente com diversas organizações mundiais de Direitos Humanos, vão dar início a uma campanha de denúncia internacional desse estado de terror e violência implantado pelo governo Colombiano, pelos Estados Unidos e pelas multinacionais que, em busca do lucro fácil, patrocinam, financiam e colaboram com esse genocídio.
A Coca-Cola
Conforme denúncias, a Coca-Cola e suas subsidiárias na Colômbia são coniventes com essa política que já levou ao assassinato de nove trabalhadores, 48 expulsões do local de trabalho e/ou moradia, dois exílios, incontáveis prisões sem provas ou processos formais e 67 sindicalistas que estão sob ameaça de morte. O SINALTRAINAL (sindicato nacional da categoria, na Colômbia) está promovendo uma ação judicial contra a Coca-Cola, em um tribunal norte-americano, denunciando a ação desta empresa contra o povo colombiano.
Declaração pública ao final do encontro sindical da Rede de Solidariedade Internacional e da Rede de Fraternidade Européia com as organizações sociais do Departamento (Estado) de Arauca, realizado no município de Saravena, na Colômbia, nos dias 14 e 15 de setembro de 2003
O trabalho social e humanitário transcende qualquer interesse individual. Em Arauca se constrói uma proposta de vida, que nasce das necessidades e da sabedoria popular; que respeita os valores e princípios que fazem possível a dignidade humana, mas que hoje não é uma alternativa considerada devido ao pensamento único que impera no mundo e que é imposto pela força desumanizadora da globalização neoliberal que somente faz crescer a miséria e a pobreza.
A proposta de vida que se constrói em Arauca nos permite ver o mundo de outra maneira, na qual a vida com dignidade é possível. As comunidades trabalham pela saúde, pela educação, pela cultura, pela soberania de seu povo, para que seus homens e mulheres construam seu próprio futuro e seus caminhos de bem-estar e de dignidade. Por meio de suas lutas, elas estão conseguindo que sejam reconhecidos e respeitados seus direitos à organização social e à liberdade de expressão, criando assim espaços de mobilização e real participação das pessoas. As comunidades têm lutado incansavelmente pelo direito à vida com dignidade, respeito aos direitos humanos, e pela permanência em seu território reverenciando as milenares culturas indígenas Uwas e Guahibos, e preservando seus espaços ecológicos e ambientais.
Estas mesmas comunidades que historicamente estão resistindo têm encontrado, por parte dos governos colombianos, agressividade, autoritarismo e perseguição a sua proposta de vida. Elas são consideradas, pelo governo, de serem o braço político da revolução e classificadas como terroristas.
Está colocado na Colômbia o mais feroz plano de eliminação da mobilização social, por meio de assassinatos, criminalizações e prisões massivas, além de perseguições a seus projetos sociais e comunitários liderados pelas organizações sociais que estão ameaçadas pela guerra imposta por forças paramilitares. A estas comunidades é negado todo tipo de apoio institucional.
O trabalho social e humanitário dessas comunidades é legítimo e legal perante a lei, e por esse motivo, nós, de organizações sindicais e sociais e de redes de solidariedade internacionais, declaramos e reivindicamos:
– Que cessem as criminalizações dos movimentos sociais;
– Que os assassinatos de seus membros sejam investigados e que os responsáveis sejam punidos;
– Que os dirigentes sociais que estão presos sejam libertos;
– Que os fundamentais direitos internacionais sejam respeitados também na Colômbia; e
– Que os cidadãos e cidadãs do Departamento de Arauca possam prosseguir vivendo em paz e com justiça social.
Saravena, 15 de setembro de 2003
– Rede de Fraternidade Européia
– Sinaltrainal – Sindicato Nacional de Trabalhadores da Indústria de Alimentos na Colômbia
– Aduc – Associação Departamental de Usuários Campesinos
– Cut – Central Unitária de Trabalhadores de Arauca
– Ascatidar – Associação de Autoridades das Tradições Indígenas
– Asojer – Associação Juvenil e Estudantil Regional
– Associações Cívicas e Comunitárias
Nosso trabalho social e humanitário é legítimo e legal.
O defenderemos com denúncias, com mobilizações e com protestos e atos públicos
Relatos enviados por nossos
companheiros que estão na Colômbia
Barranca Vermelha, 14 de setembro de 2003
Hoje, nós sindicalistas brasileiros e europeus em visita de solidariedade ao povo colombiano, denunciamos mais um golpe contra os trabalhadores promovido pela Coca-Cola. Ela anunciou o fechamento de 9 das 17 fábricas que tem no país, jogando na rua mais dois mil desempregados.
A Coca-Cola, pela sua atitude nefasta em diversos países vem sofrendo campanhas de denúncias por parte de diversas entidades de trabalhadores, ambientalistas e de direitos humanos, enfrenta processos jurídicos nos Estados Unidos e é alvo de uma campanha de boicote aos seus produtos encabeçado pelo SINALTRAINAL (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação na Colômbia).
Além disso, a conivência desta multinacional norte-americana vem contribuindo para a trágica situação do sindicalismo na Colômbia. Somente este ano, 49 sindicalistas de diversas entidades foram assassinados, além dos seqüestros, ameaças e prisões sofridas diariamente pelos dirigentes sindicais, a exemplo do companheiro Hernando Hernandes, Petroleiro vice-presidente da USO (União Sindical Obrera – petroleiros na Colômbia), que esta em prisão domiciliar acusado de subversão pelo governo Uribe em mais uma tentativa de criminalização dos movimentos sociais na Colômbia.
Os últimos fatos ocorreram com os companheiros Juan Carlos, dirigente da CUT e da Alimentação de Barranca Vermelha, que graças à atuação dos seguranças saiu ileso de uma tentativa de assassinato por parte dos paramilitares no dia 22 de setembro; e Liberto Carranza, dirigente sindical da Alimentação em Barranquila, no dia 9 de setembro teve seu filho de 15 anos seqüestrado e torturado por quatro horas pelos paramilitares.
Por isso, queremos aproveitar o momento em que no Brasil estamos dando mais um passo em nossa luta contra Alca para juntarmos a esta atividade mais esta denúncia, fazendo pressão na embaixada dos Estados Unidos em Brasília e também ampliá-la para as entidades aliadas no Brasil.
Delegação de sindicalistas brasileiros
em visita de solidariedade aos
trabalhadores e ao povo Colombiano.
Bogotá, 09 de setembro de 2003
Aos companheiros(as) e amigos(as)
Nossa missão de solidariedade às organizações sociais, sindicais, camponeses e de defensores dos direitos humanos segue com muito entusiasmo e também tem servido de muito aprendizado para nós. Atuando diretamente, estamos entendendo as raízes dos problemas e buscando respostas precisas e seguras sobre a realidade colombiana.
Logo em nossa chegada, no dia 7, participamos de um ato de abertura da Semana Pela Paz, que ocorre de 07 a 14 de setembro, com uma programação de inclui muitas atividades culturais e de protestos e atos públicos. O mote da Semana, nesse ano, é “Sin Reconciliacion no Hay Futuro”, uma frase de Nelson Mandela. Essa frase tem muito sentido aqui, pois o presidente Uribe optou por criminalizar os movimentos sociais e massacrar a guerrilha. E como a guerrilha está fortalecida e bem organizada, não haverá paz se não houver o entendimento. Só restarão cadáveres.
Em um comunicado da CUT colombiana fica muito claro o grau de radicalização no país:
“… expressamos publicamente ao senhor presidente que estamos dispostos a assumir a prisão, o exílio e a morte, se necessário, para defendermos os direitos humanos da população colombiana e não permitir que o genocídio continue.”
Os movimentos denunciam que o governo colombiano não cumpre as recomendações internacionais, não garante segurança ao exercício da atividade sindical e não defende os direitos humanos. Ao contrário, faz campanha implacável contra os movimentos sociais.
Foram cometidas, segundo o Movimento, quase 5 mil violações dos direitos humanos, 2.400 detenções arbitrárias. Só no movimento sindical, em 2003, são 48 trabalhadores assassinados e 120 presos.
Nossa missão, em particular a dos Químicos, é participar ativamente da campanha pela libertação do companheiro Hernando Hernandez, dirigente da USO – sindicato petroleiro/petroquímico que é o símbolo da resistência sindicalista no país. Nos próximos dias haverá uma audiência em tribunal sobre seu caso, e lá estaremos com cartazes e faixas, juntamente com toda a delegação internacional.
Nosso objetivo nessa visita à Colômbia com militantes de toda a parte do mundo é para que o governo de Uribe Vélez aplique, imediatamente, as recomendações de direitos humanos definidas pela ONU – Organização das Nações Unidas e demais organismos internacionais, e que cesse a criminalização dos movimentos sociais e às prisões arbitrárias de seus militantes.
Para se lutar nos movimentos sindicais, sociais e populares na Colômbia é muito difícil, pois os riscos reais de vida exigem um aparato de segurança muito grande e rígido. As informações que chegam até nós, no Brasil, são na verdade contra-informações que correspondem somente aos interesses da burguesia e das oligarquias colombianas.
Um forte abraço socialista e internacional, de todos os companheiros químicos que participam da missão da Rede de Solidariedade Internacional, diretamente da Colômbia.”
Delegação de sindicalistas brasileiros
em visita de solidariedade aos
trabalhadores e ao povo Colombiano.
16/Julho/2003
22 de julho – Dia Mundial de boicote à Coca-Cola
A Colômbia vem se constituindo como modelo de uso extremado da violência para a imposição do neoliberalismo. Todas as formas de organização social que tentam resistir estão sendo exterminadas: indígenas, camponeses e trabalhadores são assassinados por se oporem às pretensões capitalistas. Assim, a cada ano, na Colômbia são assassinados mais sindicalistas que em todo o resto do mundo.
A Coca-Cola Company, a Coca-Cola de Colômbia e a sua filial Panamerican Beverage-Panamco S.A. – adquirida por Coca-Cola FEMSA y Bebidas Y Alimentos de Uraba S.A. -são responsáveis por ações ou omissão nesta política de aniquilamento contra o movimento social. Essa criminosa política já levou ao assassinato de nove trabalhadores, dois foram exilados, 48 foram expulsos de seus locais de moradia/trabalho e 67 estão sob ameaça de morte. Além desses, cerca de 15 trabalhadores estão presos devido a falsas acusações de serem terroristas, numa tentativa de estigmatizar e demonizar a atividade sindical.
Organizações mundiais de direitos humanos denunciam que grupos paramilitares, que atuam em cumplicidade com as forças armadas e organismos de seguridade do Estado, constantemente são utilizados nessas atividades de repressão em favorecimento às multinacionais e suas filiais. Essa brutal repressão contra os dirigentes sindicais está obrigando a centenas de trabalhadores a se desfiliarem de suas organizações de classe. Muitos trabalhadores conscientes, assustados e intimidados, demitem-se das empresas Coca-Cola mesmo colocando em risco a sustentação econômica de suas famílias. Sob esse quadro, os acordos/contratos coletivos são ignorados, se impõem baixos salários e cerca de 86% dos trabalhadores são terceirizados (subcontratados).
Esta política trabalhista construída sob clima de terror tem permitido à Coca-Cola aumentar enormemente seus lucros.
Também em outros países – como Guatemala, Filipinas, Paquistão, Índia, Israel, Venezuela, etc – o movimento social tem denunciado a Coca-Cola por ela utilizar-se, diretamente ou por meio de suas filiais, da violência, dos abusos, de participar do financiamento à oposição a governos democraticamente eleitos e do descumprimento das leis trabalhistas, sempre com o objetivo de alcançar seus objetivos econômicos e de mercado. A multinacional também vem sendo denunciada pela prática da discriminação racial, pelo uso irracional da água com danos ao meio ambiente, e por não se comprometer com os consumidores a não utilizar, como matéria prima, produtos modificados geneticamente.
Afirma-se que a Coca-Cola usa folha de coca em seus produtos, no entanto, indígenas que a produzem desde tempos remotos são duramente reprimidos pó isso.
O SINALTRAINAL (sindicato nacional da categoria na Colômbia) está promovendo uma ação judicial contra a Coca-Cola e suas filiais na Colômbia em uma corte nos Estados Unidos, com fundamento na lei Alien Torts Claims Act (atos de prejuízos a estrangeiros), por esses abusos a que os trabalhadores sindicalizados estão sendo vitimados pela multinacional norte-americana.
Em 2002, várias organizações internacionais do mundo realizaram uma audiência pública popular denominada Héctor Daniel Usech Berón (um dos trabalhadores assassinados pela repressão) – Contra a Impunidade SINALTRAINAL Clama por Justiça. Nessa audiência ficou decidido que a partir do dia 22 de julho próximo terá início uma campanha mundial de boicote à Coca-Cola. Na audiência foi também aprovada uma proposta de se exigir a reparação integral das vítimas (ou a seus familiares) da repressão, exigência essa entregue à multinacional no início de 2003.
A Campanha Mundial de Boicote à Cola-Cola se consiste em uma série de atividades que vão desde a não se consumir mais produtos da empresa, a não ser cliente de bancos nos quais a multinacional mantenha investimentos, promover atos de denúncias, protestos e mobilizações conscientes que venham a somar no objetivo de obrigar a Coca-Cola a reparar integralmente os danos causados aos trabalhadores e à população.
Do governo colombiano são exigidos o fim da criminalização dos movimentos sociais e dos trabalhadores e da política de prisão de dirigentes sindicais e populares. É exigido também que o governo comprometa-se com um processo de solução política que venha permitir ao povo colombiano a conquista da paz e do bem estar.
Nossa luta é pela paz com justiça social e pelo bem estar dos povos. Por isso apoiamos a luta contra a guerra, contribuímos com a construção de movimentos contra a globalização capitalista, participamos da luta contra a Alça compartilhamos das iniciativas da Aliança Social Continental, do Fórum Social Mundial e de todas as atividades e ações que busquem permitir aos povos alcançar a felicidade, a soberania e a liberdade.
Por que amo a vida… não consumo Coca-Cola
Porque ela financia a guerra… não consumo Coca-Cola
Não consumo Coca-Cola… não financio a morte!
Comitê Internacional da Campanha Mundial contra a Coca-Cola Para que Cesse a Violência na Colômbia!