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2017: o ano do maior aumento de bilionários da história

Por: Marina Rossi

El País

 

O ano passado foi um ano de fortunas para muita gente. A cada dois dias, um novo bilionário surgiu, somando-se a uma riqueza que seria capaz de acabar com a pobreza extrema por mais de sete vezes. No total, há 2.043 bilionários em todo o mundo, que formam um restrito clube: a cada dez, nove são homens. Os dados estão no relatório Recompensem o trabalho, não a riqueza, elaborado pela Oxfam e divulgado nesta segunda-feira.

Os dados mostram o tamanho da concentração de renda e desigualdade social em todo o mundo. De toda a riqueza gerada no ano passado, 82% ficaram nas mãos do 1% mais rico. Absolutamente nada ficou com os 50% mais pobres ao redor do globo.

Para elaborar o documento, a Oxfam entrevistou mais de 120.000 pessoas em 10 países, nos cinco continentes. Além das entrevistas, o relatório foi feito com base em uma série de estudos de organizações como a ONU, McKinsey, Fórum Econômico Mundial, Organização Internacional do Trabalho, Banco Mundial, o documento World Inequality Report 2017 do Credit Suisse e o ranking da revista Forbes, entre outros.

O relatório ainda mostrou que as mulheres contribuem anualmente com 10 trilhões de dólares em cuidados não remunerados para sustentar a economia global. Ou seja,se o trabalho doméstico das mulheres fosse contabilizado, ele custaria 10 trilhões de dólares ao ano, segundo uma estimativa da ONU.
Além do gênero, a Oxfam também fez um recorte geográfico de alguns dados e mostrou que na Nigéria, por exemplo, os juros recebidos pelo homem mais rico sobre sua fortuna em um ano seriam suficientes para retirar dois milhões de pessoas da pobreza extrema.

Nos Estados Unidos, as três pessoas mais ricas do país detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre da população, ou seja, 160 milhões de pessoas. Em pouco mais de um dia de trabalho, o diretor executivo de uma empresa norte-americana ganha o mesmo que um trabalhador médio ganha em um ano.

Já no Brasil, como já havia sido publicado por este jornal, uma pessoa que ganha um salário mínimo (cerca de 23% da população brasileira) precisaria trabalhar por 19 anos seguidos para ganhar o mesmo que uma pessoa do grupo do 0,1% mais rico da população ganha em um mês. Por aqui, ganhamos 12 bilionários no último ano, passando de 31 para 43. Desses, cinco detêm o patrimônio equivalente ao da metade mais pobre da população do país.

No final do ano passado, uma pesquisa realizada pela Oxfam e o Datafolha mostrou que os brasileiros “sentem a desigualdade mas não conseguem calcular o seu tamanho”, segundo afirmou na época Rafael Georges para o jornal Folha de S. Paulo. Isso foi dito com base nos dados que a pesquisa revelou: 91% concordam que poucas pessoas ganham muito e muitas ganham pouco. Porém, entre os que ganham mais – ao menos 4.700 reais mensais – 68% disseram fazer parte da metade com menor renda, quando, na realidade, este grupo faz parte dos mais abastados.

Paraísos fiscais e heranças
Uma parte considerável das grandes fortunas não vem do trabalho, mas sim da família: aproximadamente um terço da riqueza dos bilionários pode ser atribuído a heranças. E nos próximos 20 anos, 500 das pessoas mais ricas do mundo deixarão mais de 2 trilhões de dólares para seus herdeiros. Para se ter uma ideia do que este valor representa, o PIB do Brasil em 2016 – data dos dados mais recentes – foi de 1,7 trilhão de dólares.

Segundo a Oxfam, em muitos casos, as fortunas dos mais ricos são alimentadas pela evasão fiscal, praticada por indivíduos ricos e pelas empresas das quais são titulares ou acionistas. O documento afirma que, usando uma rede global de paraísos fiscais – como os revelados nos Panama Papers, por exemplo – os super-ricos estão escondendo pelo menos 7,6 trilhões de dólares das autoridades fiscais. Os economistas que participaram da elaboração do documento afirmam que isso significa que o 1% mais rico do mundo vem sonegando cerca de 200 bilhões de dólares em impostos e que os países em desenvolvimento estão perdendo ao menos 170 bilhões de dólares, todos os anos, em impostos não pagos por empresas e super-ricos.

A redução dos custos trabalhistas, como salários e direitos, algo muito em discussão neste momento no Brasil em decorrência da reforma trabalhista, é outro ponto que contribui para a desigualdade de renda, de acordo com a Oxfam. Neste contexto, “os sindicatos aumentam os salários, os direitos e a proteção, não só para seus membros, mas para todos os trabalhadores de uma sociedade”, diz o documento. Em muitos países ainda não existe o salário mínimo ou mecanismos de negociação coletiva, e, na maioria dos casos, segundo os pesquisadores, o salário mínimo não é suficiente para a sobrevivência. No Brasil, o mínimo está em 937 reais.

A organização pondera que “ter um emprego não significa escapar da pobreza”, com base nos dados sobre condições de trabalho e remuneração. E ainda que segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2016, havia 40 milhões de pessoas escravizadas em todo o mundo. Dessas, quatro milhões são crianças.

Na tentativa de se debater soluções para o combate à desigualdade social, a Oxfam destaca o apoio dos entrevistados ao aumento da tributação para os mais ricos, algo defendido recentemente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas no Brasil, a legislação vai na contramão desta proposta: a lei estipula que pessoas que ganham lucros e dividendos de empresas não paguem impostos sobre eles. Assim, quem paga mais taxas, proporcionalmente, são os pobres e as classes médias.

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