Bernadete Menezes é líder sindical, diretora da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora e membro da executiva nacional do PSOL
A pandemia da Covid- 19 escancarou que o capitalismo não responde para as principais questões sociais e econômicas do Brasil. A crise sanitária tirou a máscara desse sistema cruel. Segundo Bernadete Menezes, a Berna, tudo o que falavam contra nós, socialistas, caiu por terra.
O SUS (Sistema Único de Saúde), que eles desvalorizaram tanto, falaram mal, disseram que não servia, que era um péssimo atendimento, agora estão todos defendendo. Aparecem os ministros bolsonaristas, neoliberais, da direita com máscara e colete do SUS. Ou seja, aquilo que eles falavam sobre o SUS caiu por terra e agora viram que é necessário fortalecer o sistema de saúde público.
Da mesma forma as universidades. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, falou que nas universidades só tinham plantadores de maconha e que só sabiam fazer balbúrdia. Está aí a balbúrdia: recorreram justamente para a pesquisa, a ciência. A pandemia mostrou o que? Que a gente depende da ciência, do concreto. Portanto, também caiu por terra o descaso com a ciência no Brasil.
Como podemos definir esse momento político que estamos vivendo com um desgoverno total do país?
Nós estamos vivendo uma época histórica. Um período de profunda crise do capitalismo, que estourou em 2008 com a bolha imobiliária nos Estados Unidos. Agora, a crise com a pandemia. O que nos espera pela frente é um aprofundamento total da crise social porque os capitalistas vão querer continuar mantendo o lucro, congelar e diminuir salários, demitir milhões de trabalhadores e levar outros milhões para a miséria. Aumentando ainda mais essa desigualdade. Somos o segundo país mais desigual do mundo. A gente precisa discutir uma saída mais radical e estratégica. Democracia não é votar de dois em dois anos é para garantir emprego, habitação, salário, qualidade de vida, sustentação do SUS. Se não fosse o SUS como seria nessa pandemia? Sem as universidades, os serviços públicos, o transporte? O capitalismo não dá resposta para nenhuma dessas questões. Nós precisamos avançar num programa radical de mudança real da sociedade.
O que a pandemia deixa claro sobre o sistema capitalista?
Foram várias derrotas ideológicas que o capitalismo sofreu nesse período de pandemia. Por exemplo, defendiam que não precisavam dos trabalhadores, que os robôs fariam tudo. Então por que não os liberaram das fábricas? Porque são eles quem criam valor de verdade. Não é fictício como o mercado financeiro. É do suor do trabalho, é daquele que vai todo dia e bate o ponto. Esse trabalhador é que gera riqueza. Nós temos que partir da realidade dos trabalhadores, da população carente, dos explorados até a última gota de sangue. Daqueles que estão aí como “empreendedores”. A mulher que vendem de casa em casa produtos de beleza, lingerie, as professoras nas escolas vendem doce, o guardador de carro. São quase 53 milhões no Brasil. É uma quantidade escandalosa. Se acrescentarmos ainda os desempregados e os desalentados, vai para quase metade da população brasileira economicamente ativa. Para quem já foi a sexta economia do mundo e, que hoje ocupa a nona posição, viver nessas condições é revoltante. A pandemia tem desmontado e tirado a máscara do capitalismo.
Como o socialismo pode contribuir para esse momento?
Agora é a hora dos socialistas virem a público dizer a que vieram. Marx nos ajudou bastante até aqui, mas ele não pode cumprir a nossa tarefa de concretizar um programa, que deve responder a três grandes crises: econômica, social e agora a sanitária. Há uma grande confluência de crises e as respostas não são fragmentadas. São coisas que se cruzam. Nós temos que começar a conscientizar o nosso povo e fazer transformações profundas na sociedade. Nós temos que discutir sobre a redução de horas de trabalho, mudar e apresentar uma saída para encantar as gerações. As saídas encontradas pelo Bolsonaro estão levando o país para o buraco, a morte, o desemprego e a miséria em massa. A nossa tarefa é inversa: defendemos a independência nacional, produção local, diminuição de horas de trabalho e enfrentamento ao capital financeiro. São nessas bases que precisamos começar a discutir.
Como a classe trabalhadora pode resistir a tantos ataques aos seus direitos?
A resistência tem que estar em todos os níveis: nas organizações como os sindicatos, o MTST, MST no campo, os trabalhadores dos aplicativos. Nós temos que juntar todas as lutas, a juventude, os movimentos de mulheres e negros onde as pautas democráticas tem peso. Juntar todos e fazer uma grande frente social por mudanças reais. Somos contra fazer uma frente eleitoral para fazer a mesma coisa. Precisamos romper com essa lógica e trilhar um novo caminho. Nós trabalhadores temos que fazer essa organização e nos organizar politicamente. Porque a gente sabe as limitações do sindicato, de uma categoria. A classe trabalhadora tem que se unir em todos os setores. Esse é o papel do partido. O partido tem que unificar as lutas e ser mais amplo, juntar a luta do pequeno produtor com o autônomo da cidade, o lavador de carro, a doméstica, o operário da fábrica, os químicos, os servidores públicos. Todos a favor da democracia e pela vida.