As eleições 2020 para o Executivo e Legislativo municipal em todo o Brasil foram marcadas pelo crescimento da representatividade de mulheres, negros e negras e pessoas LGBTQI+. “É sempre importante discutir a representatividade das mulheres na política. Ter compromisso com a vida das mulheres é combater a violência, defender os serviços públicos de qualidade e colocar a periferia no centro do debate político. Compromisso com o combate ao machismo precisa ir além do discurso, precisa ser uma ação cotidiana. Hoje, defender as mulheres passa também por combater o desmonte do estado promovido pelos tucanos e por Bolsonaro”, afirma Débora.
Apesar de ter aumentado de 42,1% de candidatos negros eleitos nas eleições de 2016 para 44,7% esse ano, ainda os brancos continuam sendo maioria entre os vereadores eleitos. Quase 54% dos políticos que devem ocupar as Câmaras Municipais do país a partir do ano que vem se declaram brancos. “É essencial que os negros e negras sintam que podem e devem ocupar a política e todo e qualquer espaço de liderança. Nós temos voz”, diz Débora.
Em todo Brasil, foram eleitas 15 pessoas transexuais e travestis esse ano. Para o legislativo municipal de São Paulo, pela primeira vez uma mulher trans e negra é eleita para uma das cadeiras na Câmara de vereadores. Erika Hilton (PSOL) foi eleita com mais de 50 mil votos. Ela foi a mulher com melhor desempenho na disputa e ficou em sexto lugar na lista dos mais votados. Na capital carioca, Monica Benicio, viúva da vereadora assassinada Mariele Franco, também conseguiu uma vaga no legislativo.
Unificados|Qual é a análise que podemos fazer sobre o resultado das eleições municipais em todo Brasil?
Débora Camilo Bolsonaro é o grande derrotado nestas eleições, e isso abre uma possibilidade concreta de resultado positivo para a esquerda em 2022. O Bolsonarismo, como expressão da ultradireita ou do protofascismo, obteve vitórias medíocres e em alguns casos fragorosa derrota, como nos casos das 13 candidaturas às prefeituras que tiveram apoio direto de Bolsonaro por meio de vídeos e declarações, ou ainda, de Russomano na Capital São Paulo. Além de Crivella, no Rio de Janeiro, que foi para o 2º turno com apenas 21% dos votos válidos. O PSOL cresceu com qualidade e avança em seu protagonismo no campo da esquerda. Com a consolidação das bancadas eleitas nas Câmaras Municipais de todo o Brasil, o PSOL elegeu 88 mandatos de vereador espalhados pelas cinco regiões do Brasil. Desse total, quase 40% são mulheres, quase a metade é de negros e negras, além de 4 mandatos encabeçados por mulheres trans e outros 9 mandatos coletivos.
Unificados|Em 18 das 25 capitais brasileiras houve o aumento de mulheres eleitas para as câmaras de vereadores. Em relação ao Executivo, as mulheres disputaram em cinco capitais no segundo turno. O que significa essa maior representatividade feminina tanto no legislativo quanto no Executivo?
Débora Camilo A representatividade importa quando se tem um compromisso verdadeiro com a defesa de direitos. Nós temos, por exemplo, uma ministra dos direitos humanos que, embora mulher, não soma à luta e ainda reproduz uma política nociva às mulheres. É preciso sim aumentar a representatividade de mulheres no espaço político, mas com mulheres que defendam, de fato, as pautas feministas.
Unificados|É possível afirmar que as eleições municipais 2020 foram históricas? Pela representatividade alcançada pelas mulheres, pretos e pretas, e pessoas LGBTQIA+?
Débora Camilo Sim, o aumento da representatividade foi notório em todo o país. Agora, além de fazer valer os mandatos que conquistamos, é fundamental preparar e fomentar pessoas para que consigamos somar ainda mais à luta e as pautas que realmente representam as mulheres, os pretos e pretas e as pessoas LGBTQIA+, ou seja, a população como um todo e não apenas deixar que o Estado permaneça servindo aos de sempre.
Unificados|Apesar de avanços com maior representatividade nas câmaras de pretos e pretas, o racismo persiste como nos ataques à vereadora eleita Ana Lúcia Martins, em Florianópolis. Como enfrentar?
Débora Camilo O caso da Vereadora eleita Ana Lúcia infelizmente não é exceção. Aqui em Santos, durante a campanha, enfrentamos também ataques racistas nas redes sociais. O racismo é a desumanização da pessoa, é sempre difícil de lidar. Entendo serem necessárias políticas públicas de afirmação, de maneira que é essencial que os negros e negras sintam que podem e devem ocupar a política e todo e qualquer espaço de liderança. Nós temos voz.