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Eternit e Eli Lilly são condenados a indenizações milionárias por contaminações

Nesta semana, em duas decisões distintas, na 2ª Vara do Trabalho de Paulínia e no Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília, a Eternit foi condenada a indenizar por R$ 1 milhão à viúva de um trabalhador que morreu em Osasco devido a câncer contraído por exposição ao amianto e a Eli Lilly do Brasil Ltda. e Antibióticos do Brasil Ltda. (ABL) em R$ 1 bilhão em razão de contaminação de trabalhadores por substâncias tóxicas em fábrica de equipamentos instalada em Cosmópolis/SP.

São mais duas grandes condenações que se somam à do crime ambiental Shell/Basf, em Paulínia/SP, em ações e mobilizações organizadas e sustentadas pelo Sindicato Químicos Unificados e pela Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas (Atesq). SIGA ESTE ENDEREÇO para rever a história.

Eli Lilly do Brasil – Multinacional norte-americana em Cosmópolis
é condenada em R$ 1 bilhão pela contaminação de trabalhadores

Campinas – A juíza Antonia Rita Bonardo, da 2ª Vara do Trabalho de Paulínia, condenou as empresas Eli Lilly do Brasil Ltda. e Antibióticos do Brasil Ltda. (ABL) ao pagamento de indenizações que totalizam R$ 1 bilhão, em decorrência da contaminação de trabalhadores por substâncias tóxicas e metais pesados em uma fábrica de medicamentos em Cosmópolis/SP.

Dentre as obrigações impostas pela sentença está o custeio, pelas empresas, do tratamento irrestrito de saúde a todos os empregados, ex-empregados, autônomos e terceirizados – que prestaram serviços no período mínimo de seis meses no complexo industrial -, assim como aos filhos desses trabalhadores, nascidos no curso ou após a prestação de serviços.

A justiça também proibiu as empresas de enterrarem resíduos tóxicos no solo e de explorarem atividade econômica no parque fabril pelo período de um ano, “em razão da degradação ambiental ocasionada pela contaminação do solo, da água ou do ar por produtos químicos”. O Ministério Público do Trabalho, autor da ação civil pública, acompanhará a delimitação da área a ser isolada.

A multinacional norte-americana e sua subsidiária brasileira foram alvo da uma ação civil pública no ano de 2008, movida pelo procurador Guilherme Duarte da Conceição, após a instrução de um inquérito que apontou as consequências da exposição de funcionários a contaminantes no processo produtivo da fábrica, mas também pela exposição a gases e metais pesados advindos da queima de lixo tóxico de terceiros pelo seu incinerador.

“A Lilly afirma que não tinha metais pesados na produção, mas isso vinha de terceiros. O incinerador, que funciona até hoje, estava ocioso, e daí surgiu a ideia de incinerar para outras fábricas”, explica Elias Soares Vieira, ex-trabalhador da Lilly.

Segundo evidências juntadas no processo, de 80 ex-funcionários que se submeteram a exames de sangue, cujos laudos médicos estão na petição inicial, apenas três não apresentaram contaminação, embora existam suspeitas, segundo o médico toxicologista Igor Vassilieff. Mesmo assim, o MPT solicitou na ação a inversão do ônus da prova, ou seja, que a empresa seja obrigada a apresentar provas de que o meio ambiente da empresa não contaminou os trabalhadores.

“Tenho na minha corrente sanguínea a presença de metais pesados como chumbo, arsênico, alumínio, titânio e mercúrio. Por conta disso, desenvolvi um câncer renal e tive que remover o rim direito, com perda de funcionalidade do esquerdo e repercussão no fígado. Também tenho problemas nas glândulas suprarrenais e nas artérias”, aponta Elias.

Segundo o trabalhador, cerca de 500 pessoas passaram pela fábrica desde o ano de 1977, quando iniciou suas operações em Cosmópolis (SP). De lá pra cá, todos estão recebendo tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde), já que a empresa não admite a contaminação de seres humanos na planta e, por isso, não se responsabiliza pelo custeio do tratamento de saúde. Já existem ao menos 70 processos individuais contra a Lilly na Justiça do Trabalho.

Os laudos técnicos apontam a presença de substâncias perigosas nas águas subterrâneas no terreno da fábrica, tais como benzeno, xileno (solvente), estireno (usado para a fabricação de veneno contra ratos), naftaleno (também conhecido como naftalina), tolueno (caracteriza a cola de sapateiro), omeno e isopropil benzeno.

Por conta disso, as próprias empresas – Eli Lilly e ABL – realizaram uma autodenúncia à Cetesb, admitindo a contaminação da água e do solo da região. Há processos ativos contra as companhias em outros ramos do Judiciário.

Indenizações

A justiça arbitrou a indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 300 milhões, conforme solicitado pelo MPT. Desse montante, o total de R$ 150 milhões será destinado a uma fundação para prestação de assistência aos trabalhadores expostos a riscos de contaminação, que deve ser criada no prazo de um ano.

O objetivo da fundação é o de propiciar “acompanhamento, diagnóstico, medidas preventivas e tratamento” dessas pessoas.

Outros R$ 100 milhões serão destinados para a aquisição de bens para o Hospital das Clínicas da Unicamp, Hospital Celso Pierro e Centro Infantil Boldrini, necessários para “diagnosticar e tratar os danos decorrentes da exposição a agentes tóxicos”, e os demais R$ 50 milhões serão revertidos ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

No cálculo da indenização, a magistrada incluiu o custo estimado das empresas com o tratamento de saúde dos trabalhadores, elevando o valor para R$ 1 bilhão, como pode ser atestado na última página da sentença: “Levando-se em consideração os valores objetivamente fixados e aqueles estimados com os gastos para tratamento de saúde, arbitro à condenação o valor de R$1.000.000.000,00 (um bilhão de reais)”.

Em caso do descumprimento de qualquer item da sentença, incluindo indenizações e obrigações impostas pelo juízo, as rés pagarão multa de R$ 100 mil por dia, reversível ao FAT.

Cabe recurso no Tribunal Regional do Trabalho de Campinas.

Fonte: ASCOM PRT-15 (09/mai/14) – Processo nº 0028400-17.2008.5.15.0126

TST condena Eternit a pagar indenização de
R$ 1 milhão por morte de trabalhador contaminado

Trata-se da maior condenação individual que se tem notícias no TST até hoje. Advogados podem conseguir protelar o pagamento, mas dificilmente mudar a sentença

Por Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual (RBA) – publicado em 07/05/2014

 

Utilizado em produtos como telhas e caixas d´água, o amianto é uma fibra mineral cancerígena (foto de Wilson Dias/ABr)
Utilizado em produtos como telhas e caixas d´água, o amianto é uma fibra mineral cancerígena (foto de Wilson Dias/ABr)

 

São Paulo – O Tribunal Superior do Trabalho (TST) elevou para R$ 1 milhão o valor da indenização que a Eternit deve pagar à viúva de um trabalhador da fábrica de Osasco (SP) morto devido a um tipo de câncer pulmonar causado pela exposição ao amianto. Ele foi funcionário entre 1964 e 1967, mas a doença só foi diagnosticada em 2005, ano em que morreu.

Inicialmente, a 45ª Vara do Trabalho de São Paulo condenou a Eternit à indenização em danos morais de R$ 600 mil, tendo em vista a gravidade da doença, “a grande dor causada ao trabalhador” e a atitude da empresa, “que não mantinha controle algum das substâncias utilizadas no meio ambiente de trabalho”. O laudo pericial levou em consideração que o período de latência da doença pulmonar pode ultrapassar 30 anos. Mas a família entrou com recurso pela ampliação do valor.

Para o relator do recurso, o ministro Augusto César de Carvalho, a morte decorreu de risco oferecido por uma atividade econômica dirigida à exploração de fibra mineral cuja inalação é reconhecidamente letal.

Em seu voto, ele ressalta que o amianto é banido em vários países porque não há limite seguro de exposição às suas fibras e que não há qualquer dúvida quanto ao risco que  representa à saúde. De acordo com ele, “em vez de se emprestar efetividade ao princípio da precaução – conduta preventiva para a qual devem concorrer o Estado e toda a coletividade, inclusive o segmento empresarial –, converte-se o homem trabalhador em cobaia com morte precoce e anunciada”.

Na contestação à reclamação, a Eternit defendeu que o uso do amianto é feito em conformidade com a lei, e que sempre se preocupou em garantir a segurança e o bem-estar a seus funcionários, cumprindo as normas de saúde e segurança vigentes à época. Como a unidade foi desativada em 1992, 13 anos antes da morte do trabalhador, argumentou que era impossível confirmar as alegações de exposição à poeira do amianto.

Estão paradas no Supremo Tribunal Federal (STF) três ações questionando a constitucionalidade da Lei 9055/1995, que permite a exploração comercial e industrial do amianto branco (crisotila). Uma delas é a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4066, ajuizada pela Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e pela Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra), que se baseiam na falta de limite seguro para exposição mineral atestada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Engenheira civil e de segurança do trabalho, a auditora-fiscal aposentada do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Fernanda Giannasi comemora a decisão. “Certamente é um avanço em relação a decisões anteriores, muito tímidas, que não puniam as empresas negligentes com a saúde de seus trabalhadores. Quanto mais custar no bolso dos empresários e investidores, cremos que mais rapidamente eles mudarão a tecnologia isenta de amianto”, diz Fernanda, que atua voluntariamente em diversos movimentos de trabalhadores, entre eles a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea).

“A decisão do TST é definitiva quanto a valores, mas é preciso levar em consideração que a Eternit tem o melhor que o dinheiro pode pagar, o seu exército de advogados, que irão  tentar algum recurso no STF para protelar o pagamento”, entende.

“Mas é muito difícil,  quase impossível, reformar essa decisão.”

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Leia entrevista do Unificados com
Fernanda Giannasi, fundadora da ABREA,
publicada em 2010 sob o título O Pó que Mata

 

Fernanda Giannasi , símbolo da luta contra o amianto. Ela ganhou  prêmios nacionais e internacionais por sua atuação contra o uso do mineral
Fernanda Giannasi , símbolo da luta contra o amianto. Ela ganhou prêmios nacionais e internacionais por sua atuação contra o uso do mineral

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 100 mil pessoas morrem por ano devido a doenças respiratórias e câncer causados pelo contato com o amianto, largamente usado na indústria.

O amianto é uma fibra mineral utilizada em telhas, caixas d’água, pastilhas de freio etc. As indústrias químicas e plásticas representam 2% de seu uso.

Recentemente, o movimento antiamianto ganhou força. Em decisão histórica, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a proibição do amianto no estado de São Paulo, em 4 de junho.

O uso e comercialização do amianto já são proibidos em estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e na Argentina, Chile, Uruguai e União Europeia.

A entrevista do Jornal do Unificados é com Fernanda Giannasi , símbolo da luta contra o amianto. Ela ganhou prêmios nacionais e internacionais por sua atuação contra o uso do mineral.

Engenheira e auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Fernanda Giannasi sofreu ameaças pelo empenho com que lida contra grandes lobbies do amianto.

Fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) e coordenadora da Rede Virtual Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina, Fernanda atua junto a trabalhadores expostos ao mineral. Muitos trabalharam em fábricas como Brasilit e Eternit, em São Caetano do Sul e Osasco.

Dos que estão vivos, ainda padecem de doenças lentas, progressivas e incuráveis causadas pela fibra. Além de propor ações judiciais em defesa das vítimas, as entidades nas quais Fernanda participa buscam conscientizar a população em geral, trabalhadores e opinião pública, sobre os riscos do amianto.

A ENTREVISTA

Jornal do Unificados – Por que as doenças causadas pelo amianto não são conhecidas pela população?

Fernanda Giannasi – Porque nunca houve interesse das indústrias que as doenças fossem divulgadas, especialmente aquelas de caráter maligno (como o câncer de pulmão e o mesotelioma de pleura, peritônio e pericárdio) e por conta também da omissão de nossas autoridades sanitárias, que nunca fizeram uma busca ativa de casos entre trabalhadores e ex-empregados expostos e junto à população. Em geral, as indústrias tentam descaracterizar o nexo causal, isto é, o vínculo entre a doença e o  seu agente causador, atribuindo a outros fatores, como por exemplo, ao hábito de fumar etc.

Jornal do Unificados – Quais são as dificuldades encontradas pelo movimento para a extinção completa do uso e comercialização do produto? Existem materiais substitutos?

Fernanda Giannasi – Há muitos interesses econômicos em jogo e atualmente também interesses de governo, já que a maior empresa da América Latina e uma das maiores mineradoras de amianto do mundo é controlada pelo Fundo de Pensão do Banco Central e Fundos de Participação Societária do BNDES (refere-se à SAMA, do grupo Eternit, localizada em Minaçu, norte do estado de Goiás). É um dos lobbies industriais mais eficientes que se conhece, comparado ao do cigarro. Eles produzem até uma ciência própria para negar que seus produtos façam mal à saúde da população e se servem de pesquisadores venais, que veem aí a oportunidade de engrossarem seus magros salários das universidades públicas e entidades de pesquisas governamentais de nosso país. Há diversas tecnologias e produtos que substituem o amianto e disponíveis no mercado brasileiro.

Jornal do Unificados – Como você vê essa discussão no Brasil hoje? As campanhas antiamianto têm surtido efeito?

Fernanda Giannasi – Após histórica decisão proferida pelo STF em 04 de junho último, quando julgou que a lei paulista para proteção da saúde e dignidade da pessoa humana é constitucional, isto é, é legal e está válida, o debate no Brasil sobre o amianto é outro e antevemos para muito em breve seu banimento. Iremos fazer forte pressão para que o prazo para o fim do amianto seja “para ontem”, considerando os danos que ainda ocorrerão nos próximos 50 anos – mesmo parando a produção nos dias de hoje. Portanto, o amianto está em seus estertores e com certeza as campanhas antiamianto têm surtido efeito. As mais recentes são a total interação das vítimas com o público nos parques municipais de São Paulo onde estamos levando a campanha AMIANTO MATA!

SIGA ESTE ENDEREÇO para mais informações sobre o combate ao amianto no site da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto – ABREA.

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