O Grito dos Excluídos neste feriado de 7 de Setembro (Dia da Independência do Brasil) ocupou as ruas e praças de todo o Brasil, conforme a própria palavra de ordem da mobilização Ocupar ruas e praças, por liberdade e direitos. Em Campinas (foto acima) a passeata foi na avenida Francisco Glicério, do largo do Pará ao largo do Rosário. Em São Paulo, do qual participou a Regional Osasco do Unificados, da praça da Sé ao largo do Café. Ambos foram precedidos pela Missa do Trabalhador, na Catedral de Campinas e na da Sé, em São Paulo.
Neste 2014, o Grito reafirmou a sua história de luta como uma das vozes na sociedade brasileira. Entre as reivindicações gerais estão a reforma política, a luta contra o trabalho escravo, o direito à migração e a livre manifestação, a defesa dos direitos básicos e a participação popular, a garantia da terra aos povos tradicionais e indígenas, a defesa de políticas sociais voltadas para a juventude, o direito das mulheres e a luta contra a violência, entre outros.
Mais detalhes sobre o Grito dos Excluídos e sobre a Campanha da Fraternidade 2014 (que teve o lema Fraternidade e Tráfico Humano), que foram interligados nos temas, estão abaixo das fotos.
no images were found
No 7 de Setembro: Ocupar ruas e
praças, por liberdade e direitos
O Sindicato Químicos participará das manifestações do Grito dos Excluídos no dia 7 de setembro, um domingo, em Campinas e em São Paulo, como faz tradicionalmente todos os anos. O Grito ocorrerá em diversas cidades brasileiras e neste ano, em sua 20ª edição, ele terá como tema Ocupar ruas e praças, por liberdade e direitos. Ela está ligada à Campanha da Fraternidade de 2014, Fraternidade e Tráfico Humano (mais abaixo).
Diante das manifestações que tomaram ruas e praças nos últimos anos, a manifestação popular e a busca pelos direitos e liberdade não foram construídos pelos “poderosos e governantes”, mas na organização de base, no trabalho de formiguinha das dezenas, centenas e milhares de iniciativas populares dos movimentos sociais e de trabalhadores.
O Grito 2014 quer reafirmar a sua história de luta como uma das vozes na sociedade brasileira. Entre as reivindicações gerais do Grito 2014, estão a reforma política, a luta contra o trabalho escravo, o direito à migração e a livre manifestação, a defesa dos direitos básicos e a participação popular, a garantia da terra aos povos tradicionais e indígenas, a defesa de políticas sociais voltadas para a juventude, o direito das mulheres e a luta contra a violência, entre outros.
No Brasil, a justiça social ainda não é uma realidade plena. As mudanças estruturais são necessárias porque a sociedade ainda não é espaço de vida digna para todos como se percebeu nas grandes manifestações do ano passado. O Brasil ainda precisa mudar e por isso é necessário Ocupar ruas e praças, por liberdade e direitos.
Em Campinas
Em Campinas, na qual estarão as regionais de Campinas e Vinhedo, a concentração será às 9h no largo do Pará, centro. Depois, os participantes do Grito dos Excluídos descem a avenida Francisco Glicério, com ato previsto para as 12 horas nas proximidades do largo do Rosário.
Em São Paulo
A Regional Osasco estará presente nas atividades programadas na cidade de São Paulo. A concentração na capital será às 9h30 na praça da Sé, e às 10 horas terá início caminhada até o Museu do Ipiranga, onde ocorrerá ato político.
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
Campanha da Fraternidade 2014:
Fraternidade e Tráfico Humano
ARTIGO
A nossa responsabilidade pelo tráfico de pessoas
Por: Leonardo Sakamoto e Xavier Plassat
Filho do patriarca Jacó, José é a primeira figura bíblica vítima do tráfico humano. José ainda pode ser encontrado em qualquer esquina do nosso mundo global. Seu nome é Sikandar, Miriam, Juan, Pedrito, Luizinha, Jerry. Seu exílio (ou inferno) chama-se Doha, Belo Monte, Dacca, Brás, Codó, Barcelona, General Carneiro, Guarulhos, Lampedusa.
José está vivo. Escondido, invisível, traficado feito mercadoria, acorrentado pelo medo, instrumentalizado para o lucro fácil, preso nos tentáculos de um velho-novo crime. Tráfico e escravidão permaneceram vivos, transformando-se e ganhando novas características que os diferenciam do passado. A finalidade é a mesma: alguém lucra, alguém é explorado.
Intermediários viabilizam o sistema. Cúmplices garantem sua sustentabilidade. As modalidades são variadas: exploração sexual, trabalho análogo ao de escravo, servidão, remoção ilegal de órgãos, casamento forçado, entre outras.
A escravidão tem na atualidade um peso nunca visto na história da humanidade. Não por acaso: aprendemos a transformar tudo em mercadoria e nos conectamos globalmente, transformando o mundo em um único e grande supermercado. A Organização
Internacional do Trabalho estima em 21 milhões o número de vítimas, tanto homens como mulheres, um em cada quatro com menos de 18 anos.
No Brasil, para onde foram traficados cinco milhões de africanos, com o amparo da lei e a bênção da religião, a forma mais visível deste tráfico ainda é o trabalho escravo, presente sob as modalidades do trabalho forçado, da servidão por dívida, da jornada exaustiva e do trabalho em condições degradantes. As vítimas são aliciadas em bolsões de pobreza, dentro e fora do país. Nos últimos 20 anos foram libertadas 47 mil delas, em dois mil estabelecimentos de mais de 600 municípios. No campo, destaque para a pecuária, as lavouras do agronegócio e carvoarias. Nas cidades, a construção civil e oficinas de confecção. Para a exploração sexual, as informações quantitativas são precárias. O Brasil é tido como um dos grandes exportadores de mulheres a serem exploradas sexualmente, particularmente na Europa.
No Brasil, a mobilização contra a escravidão contemporânea iniciou-se nos anos 1970, destacando-se a figura do bispo Pedro Casaldáliga e a atuação incansável da Comissão Pastoral da Terra. Acolheram fugitivos e tornaram públicas denúncias de trabalhadores escravizados em plena floresta amazônica. A pressão em fóruns nacionais e internacionais acabou obrigando o Estado a assumir, em 1995, a causa da erradicação. A partir da ratificação do Protocolo de Palermo, tratado internacional sobre o tráfico de pessoas, em 2004, o Brasil adotou uma política nacional de enfrentamento a esse crime.
A invisibilidade das práticas do tráfico e a cegueira de muitos são algumas das dificuldades para avançar no combate a esse crime. Há quem teime em negar sua realidade, a exemplo de ruralistas em sua busca para esvaziar o conceito legal e a política nacional de combate ao trabalho escravo.
Face à idolatria que sacrifica a dignidade e a liberdade no altar do lucro, ressoa a pergunta feita a Caim: Onde está teu irmão? Sim, o escândalo ainda perdura, com o José bíblico renascido sob outros nomes. De nós depende que ele possa sair da invisibilidade, levantar-se, conquistar seus direitos. Oportunamente este é o desafio proposto à sociedade pela Campanha da Fraternidade lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Tráfico humano e Fraternidade é seu lema.
E, você, que veste as roupas produzidas por tantos Josés, come o fruto de seu trabalho e mora em residências erguidas por suas mãos, saberia responder onde, neste momento, está teu irmão?
Leonardo Sakamoto é jornalista, cientista político e coordenador da ONG Repórter Brasil
Xavier Plassat é frei dominicano, coordenador da campanha pela erradicação do trabalho escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT)