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Confira pesquisa UNB/FETQUIM/CUT/Intersindical sobre a 5ª turma

Pesquisa inédita realizada pela UNB/FETQUIM/CUT/Intersindical sobre trabalho em turnos demonstra que frente ao desgaste físico e psicológico das jornadas de turnos um número maior de folgas e escalas em 5 turnos é capaz de diminuir problemas de saúde físicos e mentais dos trabalhadores, especialmente daqueles que trabalham na produção de produtos químicos de alto risco ou periculosidade.

A pesquisa coletou dados de 508 trabalhadores/as no 2º semestre de 2019, de 28 empresas na região do ABC, Campinas e Jundiaí.

Dos 508 trabalhadores entrevistados, 283 eram de 5 turmas, com jornada média semanal de 33 horas e 36 minutos, e outros 225 eram trabalhadores de outros tipos de turno ( 6X3, 6X2, 6X1, e 5X2), perfazendo em média jornadas de 36h e 27 minutos a 42 horas semanais.

Os desgastes de saúde física, mental e da vida social e familiar registrados neste estudo confirmam: em qualquer atividade de turno há um profundo desgaste físico que rompe com ciclo cicardiano (o relógio biológico), alterando, portanto, a produção de hormônios, horas de alerta e descanso, eliminação e reparação do corpo.

Dentre os sintomas mais comuns estão problemas de adaptação do sono acompanhados de sonolência e insônia, problemas gástricos, cardíacos, distúrbios psicológicos que geram ansiedade, angústia, depressão, desânimo, fadiga adrenal e estresse, entre outros sintomas.

“Neste período de autoritarismo e governo voltado só para uma classe social, os patrões estão tentando desfazer os acordos anteriores de 5ª. Turma, conquistados após anos de luta e demonstração do risco de termos trabalhadores cansados, alterados fisicamente e psiquicamente para lidar com produtos inflamáveis e explosivos, como o caso dos químicos, petroquímicos, petroleiros, entre outras categorias, que usam as jornadas de 5 turmas para evitar acidentes e o adoecimento dos trabalhadores”, afirma André Alves, secretário de Saúde da Fetquim. “Resistiremos para que as jornadas de turno tenham mais folgas, como querem os trabalhadores entrevistados, em defesa de sua saúde e segurança”.

Para Airton Cano, coordenador político da Fetquim, “os resultados dessa pesquisa ampliam a necessidade da luta pela manutenção da 5ª. turma e outras jornadas de turno, com um número maior de folgas, para a preservação da saúde dos trabalhadores e a garantia do cumprimento da Constituição Federal de 1988 que estabeleceu a negociação coletiva ao turno”.

Confira abaixo os principais dados da pesquisa:

5ª. turma e turnos fixos

Na comparação entre os trabalhadores no regime de 5ª. turma e jornadas de 4 a 3 turmas fixas, a pesquisa mostra que 52,1% dos entrevistados dos turnos fixos à tarde apresentam problemas psíquicos. Esse porcentual é ainda maior entre os trabalhadores dos turnos fixos noturnos, chegando a 64,7%.

Tabela 1. 5 turmas X turnos fixos

tabela Fetquim 5 turma

Os problemas psíquicos de depressão, como falta de motivação são 3,5 vezes maiores nos turnos que não são 5ª. turma e o desânimo aparece em dobro nos turnos de não 5ª. turma do que em relação aos que trabalham em regime de 5ª. turma. Na soma de problemas físicos e psíquicos, os que trabalham em turnos de não 5ª. turma apresentam 68% de sintomas, enquanto os que trabalham em 5ª. turma são só 54%.

Os muitos satisfeitos são o dobro dos que trabalham em 5 turmas (64,1%) do que os que trabalham em outros turnos (35,9%).

As vantagens e desvantagens do trabalho em turno

As principais vantagens declaradas pelos trabalhadores da 5ª. turma são as folgas, os adicionais e a flexibilidade de horário para resolver os problemas do dia a dia.

Em relação às desvantagens registradas pela pesquisa na 5ª.turma estão: trabalho nos finais de semana e feriados, as dificuldades do trabalho noturno e o sono, e restrições de convívio social e familiar. Aos que trabalham em 4 e 3 turmas, o principal problema é o trabalho aos sábados de forma alternada, a dificuldade para conseguir dormir durante o dia e o prejuízo na vida social.

Conclusões do Estudo

1) 5ª. turma: A maior vantagem está no maior número de folgas, menos problemas de saúde (física e mental), mais convívio familiar, mais satisfação no trabalho e os adicionais de turno.

2) Não 5ª. Turma com turnos fixos: número de folgas menor, mais problemas de ordem psíquica e menos vantagens.

3) A grande desvantagem de 3 turmas fixas são as jornadas de turno semicontínuas com sábados alternados de trabalho, o que diminui consideravelmente o número de folgas para descanso e convívio familiar e social.

4) Na jornada de 4 turmas, com escala 6X3, os problemas de ordem familiar e social são minimizados pelas folgas, persistindo os demais problemas de ordem física e mental.

Histórico da luta do turno de 6 horas e da 5ª Turma na Constituição

A conquista da 5ª Turma é fruto da pressão sindical do Sindicato dos Químicos do ABC, da CUT e demais centrais sindicais e dos sindicatos da área química, petroquímica e petróleo de São Paulo e do Brasil ocorrida em 1987. “Foi um movimento unificado com o apoio técnico do DIESAT, que envolveu também setor elétrico, siderúrgicas, papel e papelão entre outras categorias que inscreveram na Constituição o Art. 7º que determina para as atividades de turno ininterrupto a jornada para 6 horas, ou salvo negociação coletiva sindical”, explica Remigio Todeschini, coordenador da pesquisa.

Essa norma constitucional permitiu acordos sindicais em todo o Brasil com cinco turmas de trabalho, majoritariamente de 8 horas, com um número de folgas, perfazendo a jornada de 33 horas e 36 minutos.

Após uma intensa mobilização, com assembleias em porta de fábrica, turno a turno, o sindicato patronal Sinproquim assinou o acordo da 5ª. Turma em 22 de dezembro de 1988, com prazo de 150 dias para a implantação.

Inicialmente foram contempladas com a 5ª. Turma as empresas: Carbono Capuava (atual Cabot); Brasivil (atual Unipar, ex-Solvay); Polibrasil ( atual Braskem); Poliolefinas ( atual Braskem); Oxiteno; e Unipar Química (atual Braskem). A Petroquímica União (atual Braskem) fez o acordo no decorrer do ano de 1989.

“Nesta época estavam ao nosso lado o Jacques Vagner, que coordenava o Sindiquímica em Camaçari, na Bahia, e o Miguel Rossetto, do pólo petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul”, conta Remígio Todeschini, que foi presidente do Sindicato dos Químicos do ABC e hoje é assessor de Saúde e Previdência da Fetquim. “O ABC conquistou o primeiro acordo no país da 5ª turma, na sequência foi Camaçari e depois o Sul, depois de uma greve”, lembra. “Na metade do ano de 1989 foi feito o acordo com a Petroquímica União (atual Braskem)”.

Pesquisa
Esta pesquisa da FETQUIM/CUT foi realizada em parceria com a Universidade de Brasília ( UNB/NEVIS), coordenada pelo pesquisador e assessor de Saúde e Previdência da Fetquim, Remígio Todeschini, e teve a supervisão dos professores Wanderley Codo e Ãngela Almeida, também da UNB.

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