Domingo, 22 de janeiro de 2012. Esta data vai entrar para a história do Estado de São Paulo como o dia em que 2 mil homens da Polícia Militar invadiram a Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, para desalojar nove mil moradores.
Homens, mulheres, crianças e idosos foram surpreendidos, no final da madrugada, com helicópteros sobrevoando a área e jogando gás lacrimogêneo sobre a Ocupação. Carros blindados e homens armados cercaram o Pinheirinho e não deram chance de defesa aos moradores.
A ordem era que todos se recolhessem para dar início à retirada. Água, energia elétrica e telefone foram cortados e todas as saídas da Ocupação foram interditadas. Era a
formação de uma área sitiada. Durante todo o dia, houve confronto entre moradores da ocupação, bairros vizinhos e policiais. O morador David Washington Castor Furtado, 32 anos, foi baleado pela Guarda Municipal e corre o risco de ficar paraplégico.
ACESSE AQUI para assistir vídeo da ação policial.
Outras pessoas também ficaram feridas, inclusive crianças, em razão da truculência com que agiu a Polícia Militar e a Guarda Municipal.
Truculência
Apesar dos moradores terem se preparado nos últimos dias para resistir à desocupação, pouco pôde ser feito diante da violência e forte efetivo da Polícia Militar. É o resultado
da truculência e operação de guerra montada pelo governo de Geraldo Alckmin e do prefeito Eduardo Cury.
Tratores enviados pela prefeitura destruíram a Capela Madre Tereza de Calcutá, construída pelos moradores com ajuda da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Também foi destruído o barracão onde aconteciam as assembleias, festas e reuniões dos moradores. O objetivo final é a demolição das mais de duas mil casas erguidas pelo povo, sem qualquer ajuda do Estado.
Vizinhos também se rebelam
A população de bairros vizinhos ao Pinheirinho também se revoltaram contra a invasão da PM à ocupação e entraram em enfrentamento contra os soldados e a Guarda Municipal.
O alambrado que cerca o Centro Poliesportivo do Campo dos Alemães, preparado para abrigar os moradores após a reintegração de posse, foi derrubado.
Moradores dos bairros Residencial União e Campo dos Alemães, vizinhos ao Pinheirinho, se rebelaram atirando pedras contra soldados. Revoltada, a população também incendiou veículos.
Prefeito Cury e governador Alckmin, ambos do PSDB, violam lei
e jogam famílias na rua para beneficiar especulador Naji Nahas
A ação da Polícia Militar na Ocupação Pinheirinho é o retrato da irresponsabilidade, truculência e covardia dos governos Geraldo Alckmin (PSDB) e do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB).
A ação deste domingo pegou a todos de surpresa. Afinal, nos últimos dias avançavam as negociações para adiar a desocupação e para a regularização da área.
Fora da lei
Alckmin, Cury e a juíza Márcia Loureiro, que expediu a liminar para o despejo, agiram contra tudo e todos. Literalmente, fora da lei.
Primeiramente, a desocupação descumpriu um acordo judicial onde a própria Selecta, dona do terreno, aceitou a suspensão do despejo por 15 dias. Além disso, também desacatou decisões da Justiça Federal que mandou suspender a reintegração de posse.
Ao contrário de todos os esforços para evitar a injustiça de jogar milhares de famílias na rua, Alckmin e Cury optaram por passar por cima das próprias leis do país e agir com violência e repressão. Para isso, fizeram um operativo de guerra contra os moradores do
Pinheirinho e dos bairros vizinhos.
Omissão por 8 anos
Por oito anos, os governos do PSDB, seja com o prefeito Emanuel Fernandes ou Cury, trataram o Pinheirinho com descaso e nunca se preocuparam em resolver a situação.
Agora, depois das famílias terem construído suas vidas no local, apostam na radicalização.
O Pinheirinho é resultado da falta de uma política habitacional da Prefeitura do PSDB.
Esse mesmo descaso penaliza outras 26 mil pessoas que estão na fila por uma moradia. A expulsão das famílias do Pinheirinho só vai agravar essa situação.
O fato é que por trás dessa decisão de desocupação a ferro e fogo está a pressão de grupos econômicos poderosos e gananciosos. Basta ver que o proprietário da massa falida da Selecta, dona do terreno, é o megaespeculador Naji Nahas, famoso por aplicar golpes milionários e condenado por lavagem de dinheiro e corrupção.
Por trás dessa desocupação também estão os interesses do setor imobiliário da cidade e das grandes construtoras que pretendem lucrar milhões com o terreno após a expulsão das famílias.
Ou seja, Alckmin, Cury e a juíza, mesmo passando por cima da lei, decidiram expulsar de suas casas cerca de 9 mil pessoas, a maioria mulheres, crianças e idosos, para beneficiar um punhado de poderosos.
Fonte: Jornal de apoio aos moradores do Pinheirinho – Informativo da Comissão de Sindicatos e Movimentos Sociais de São José dos Campos e Região.
Protestos em São Paulo e em Campinas
A truculenta ação policial no Pinheirinho provocou atos de protestos em diversas cidades do país, inclusive em São Paulo e em Campinas. O ato em São Paulo, na praça da Sé, também condenou o tratamento como caso de polícia a área conhecida como Cracolândia, quando, na verdade, trata-se de uma questão social. O Sindicato Químicos Unificados, a Intersindical e o Psol participaram dos dois movimentos.
Em São Paulo
Enquanto lojas, fábricas e outros estabelecimentos comerciais estavam fechados por conta da comemoração do aniversário da cidade de São Paulo, no dia 25 de janeiro, aproximadamente 1 mil pessoas realizavam um ato na praça da Sé.
Os manifestantes abraçaram a Catedral da Sé, onde era realizada uma missa em homenagem à Capital, e contava com a presença de políticos, entre eles o prefeito da cidade, Gilberto Kassab.
O prefeito Gilberto Kassab negou-se a conversar com os manifestantes e tentou sair pelas portas do fundo da Catedral. Um princípio de confusão teve início entre a Guarda Civil Metropolitana e os manifestantes, e a Tropa de Choque foi chamada.
Os manifestantes foram agredidos pela polícia, e viram o prefeito Gilberto Kassab fugir pelos fundos, escoltado por seguranças, sem ao menos conversar com os manifestantes e explicar suas ações.
A manifestação se encerrou com uma caminhada entre a Praça da Sé e a Praça da Luz, localizada na região da Cracolândia.
Em Campinas
O protesto em Campinas teve como atividade principal uma passeata de aproximadamente 500 pessoas pelas principais ruas do centro da cidade. As fotos abaixo são de autoria de João Zinclar.