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Shell abandona seminário e foge de debate com o sindicato

Diretora do Sindicato Químicos Unificados entrega a carta aberta e conversa com participante do seminário.

O CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável realizou um seminário intitulado “Cumprindo o prometido – Casos de Sucesso de Desenvolvimento Sustentável”. Juntamente com os presidentes da DuPont do Brasil e da Amanco do Brasil, o presidente da Shell Brasil S.A., Aldo Castelli, constava como participante de uma palestra e de debates na abertura do seminário, que se realizou no dia 17 de fevereiro na Assembléia Legislativa, em São Paulo. Castelli abordaria o tema “O Lado Social”. A Regional de Campinas do Sindicato Químicos Unificados divulgou que estaria presente no seminário e que participaria do debate contrapondo afirmativas da empresa que se chocassem com a realidade produzida e deixada pela empresa, a contaminação ambiental, humana e nos trabalhadores em sua planta industrial de Paulínia.

Programação original, divulgada pelo Cebds

O Desenvolvimento Sustentável, conforme definição do próprio CEBDS, é: “Um conceito que busca conciliar as necessidades econômicas, sociais e ambientais sem comprometer o futuro de quaisquer dessas demandas”. Um conceito que se choca violentamente com a ação real da Shell ao redor do mundo.

Em nova programação, a Shell desapareceu

Programação alterada, divulgada momentos antes do início dos trabalhos.

Em todo o material de divulgação do evento e no sítio da internet do CEBDS constava a presença da Shell. Aliás, até o dia seguinte ao seminário (já em 18 de fevereiro), lá estava a confirmação da presença de seu presidente Aldo Castelli. No entanto, momentos antes do início dos trabalhos foi divulgada, de forma improvisada, uma nova programação na qual a Shell não mais constava.
E esta não foi a primeira vez que Castelli foge do debate com o sindicato. Na Audiência Pública realizada na Câmara dos Deputados em Brasília, em junho de 2002, ele foi convocado, mas também não compareceu.

Carta Aberta

O sindicato preparou uma carta aberta que foi entregue a todos os presentes no seminário, aos deputados estaduais e ao público que estava na Assembléia Legislativa no dia 17 de fevereiro. Veja abaixo o seu teor:

Carta aberta ao povo paulista

Seminário do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável sobre “CUMPRINDO O PROMETIDO” ” – Casos de Sucesso de Desenvolvimento Sustentável – “

Escandaloso cinismo!

A casa símbolo da democracia, dos direitos e das leis do estado de São Paulo, a Assembléia Legislativa, é palco hoje, dia 17 de março de 2003, de despudorado aviltamento ao povo paulista. É somente dessa forma que pode ser vista a realização, justamente na Assembléia Legislativa, de um seminário intitulado “Cumprindo o Prometido – Casos de Sucesso de Desenvolvimento Sustentável” no qual, por ironia, para tripudiar sobre o povo ou por puro e escandaloso cinismo, justamente a Shell Brasil S.A. irá abordar o tema “O Lado Social”.

Justamente a Shell, que após degradar o meio ambiente e causar mortes em vários países do chamado terceiro mundo e que agora usa de todas artimanhas políticas, legais e judiciárias para se safar das responsabilidades por contaminações ambientais e laborais por ela, de formas criminosa e consciente, praticada por anos e anos em áreas de Paulínia e da Vila Carioca, atingindo a milhares de pessoas, irá falar sobre “O Lado Social” no seminário. Justamente a Shell Brasil S.A., que daqui a poucos dias será denunciada como violadora dos direitos humanos na Conferência Internacional dos Direitos Humanos a ser realizado em Genebra, na Suíça, pela ONU Organização das Nações Unidas. É muito cinismo!

A menos de uma centena de quilômetros daqui, no município de Paulínia, neste exato momento, 846 ex-trabalhadores da Shell Brasil S.A. convivem diariamente com a angústia pela incerteza de seu real estado de saúde, mas com a certeza de que foram contaminados enquanto trabalhavam e produziam lucros para a empresa. Na mesma Paulínia, 265 moradores de 66 chácaras no Bairro Recanto dos Pássaros, vizinho à planta da Shell (agora Basf S.A.), devido à contaminação ambiental foram obrigados a abandonar a área e suas propriedades onde viviam há décadas. E tanto os trabalhadores quanto os moradores são hoje ignorados pela Shell, de forma acintosa e prepotente, inclusive em flagrante desrespeitos às autoridades constituídas municipais, estaduais e federais. A única certeza que eles têm é que estão contaminados, conforme comprovam insuspeitos e independentes laudos.

E em conseqüência dessa contaminação produzida pela Shell, neste exato momento 198 trabalhadores da Basf S.A., hoje detentora da planta industrial e que está interditada por comprovada contaminação, também sabem estar com a saúde afetada e abandonados pela empresa sucessora que se recusa a realizar os exames necessários bem como não lhes paga salários e outros direitos trabalhistas.

Há pouquíssimos quilômetros desta casa do povo (a Assembléia Legislativa), em uma área de 180 mil m², denominada Vila Carioca, seus 40 mil habitantes lutam por todos os meios na tentativa de responsabilizar a Shell Brasil S.A. pela contaminação que há décadas vinha sendo lançada na região, também de forma irresponsável, criminosa e consciente pela multinacional. Que, coerente com seu objetivo de tão somente buscar lucros a qualquer preço e a qualquer custo, pratica a política de ignorar a tudo e a todos.

E é por isto que hoje estamos aqui.

Estamos aqui para protestar contra essas agressões que a Shell e a Basf praticaram e vêm praticando contra os trabalhadores, contra o meio ambiente e contra a própria vida.

Estamos aqui para protestar contra a realização de um seminário que se intitula “Cumprindo o Prometido – Casos de Sucesso de Desenvolvimento Sustentável”, cujo único objetivo só pode ser o do deboche.

E estamos aqui para protestar contra a autorização para o uso da casa do povo para uma atividade que humilha, ofende e desrespeita esse mesmo povo.

Sindicato dos Químicos Unificados (Campinas – Osasco – Vinhedo)
Comissão de Ex-Trabalhadores da Shell Brasil S.A.
Comissão de Trabalhadores da Basf S.A.

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