Aumento do custo de vida, jornadas exaustivas e precarização dos direitos trabalhistas impactam diretamente na saúde da classe trabalhadora
O Brasil enfrenta uma grave crise de saúde mental. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2024 ocorreu um aumento de 68% nos afastamentos do trabalho por transtornos mentais, totalizando mais de 470 mil casos. Os transtornos mais comuns entre os trabalhadores são a ansiedade e a depressão, com destaque para as mulheres, que representam 64% dos casos. Fatores como sobrecarga de trabalho, menor remuneração, responsabilidade pelo cuidado familiar e violência contribuem para esse quadro.
Segundo o médico do trabalho do Sindicato dos Químicos Unificados, Dr Roberto Ruiz, além dos casos mais comuns, houve um aumento na procura de atendimento para pessoas que sofrem assédio moral no ambiente de trabalho. “As empresas que estão adoecendo as pessoas, em geral, são aquelas que exigem metas muito elevadas, exigindo alta produtividade, em jornadas de trabalho extensa.” destaca Ruiz.
O aumento nos casos de afastamento por questões ligadas à saúde mental reflete principalmente as consequências da pandemia, do aumento do custo de vida, da precarização dos direitos trabalhistas e da imposição de jornadas exaustivas como a escala 6×1. Estes fatores têm impacto direto na saúde mental dos trabalhadores, uma vez que a retirada de direitos resulta em maior insegurança, sobrecarga de trabalho e falta de estabilidade, aumentando o estresse, ansiedade e depressão nos trabalhadores.
O número de atendimento de trabalhadores e trabalhadoras está cada dia maior. 20% dos atendimentos no Sindicato Químico Unificados são relacionados à saúde mental, informa o médico que atende o sindicato. “Há 10 anos, isso não passava de 5%. Nos últimos 3 anos, ocorreu um aumento significativo dos casos atendidos.”, destaca Ruiz.
O médico lembra alguns dos sintomas mais comuns como tristeza frequente, choro fácil, dificuldade de raciocínio (“ideias embaralhadas”), dificuldade de tomar decisões, sensação de sofrimento constante, falta de prazer na vida e perda de interesse pelas coisas podem ser alguns sintomas. Lembrando também que outros sintomas físicos podem estar associados também a problemas psíquicos, como dor de cabeça frequente, falta de apetite, insônia ou dormir mal, se assustar com facilidade ou má digestão.
“A orientação é que se a pessoa não estiver se sentindo bem, ou apresentar alguns dos sintomas descritos, procure seu médico de confiança ou atendimento no sindicato da sua categoria.” alerta o médico do trabalho.
O impacto desta crise levou o governo federal a reforçar a fiscalização das condições de saúde mental no ambiente de trabalho, com a atualização da NR-1, que pode resultar em multas para empresas que não cumprirem as diretrizes. Porém, esta medida não ataca a raiz do problema. Para assegurar a saúde mental do trabalhador é preciso assegurar direitos sociais e trabalhistas e jornadas de trabalho que garantam ao trabalhador tempo para descanso, lazer e outras atividades.
Diante deste cenário, a nossa luta pelo fim da escala 6×1 e contra a precarização de direitos e de serviços públicos essenciais se faz ainda mais urgente. Saúde mental é um direito de todos.